sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Super Mundial de Clubes FIFA

Qual é a graça num jogo entre o Espérance, da Tunísia, e o Al-Sadd, do Catar?

Nenhuma. Quem se importa com eles além de alguns tunisianos e outros poucos catarenses? Mesmo se tratando de um jogo válido pelo Mundial de Clubes, duvido que desperte o interesse de muita gente, mesmo numa época do ano em que o noticiário esportivo anda às moscas. Nem o jogo do vencedor deste confronto contra o Barcelona deve empolgar muito. O que todos aguardam é o muito provável e praticamente inevitável jogo entre os campeões da Europa e da América do Sul.

Para a grande maioria é difícil ver grandiosidade num jogo entre um grande clube europeu e um desconhecido catarense, mesmo se tratando do campeão asiático, muito menos num jogo entre dois times desconhecidos. O formato atual perdeu o pragmatismo do (para muitos, saudoso) TOYOTÃO, pois é inegável que no futebol de hoje raramente uma equipe de fora do eixo Conmebol-UEFA poderia se destacar numa competição como esta, e todo o interesse fica voltado apenas para a grande final. Mas essa gente da Ásia, da África, da Oceania e das Américas não-do-Sul toma refrigerante, compra carro, mora no mesmo mundo que nós e inclusive suas respectivas federações de futebol votam para eleger o presidente da FIFA. É justo que tenham o direito de participar de uma competição que decide quem é o melhor do planeta. Mas acontece que este fato não impede que se discuta como é que deve ser esta participação. Por que não agregar valor à competição (para usar uma expressão bastante em voga), fazendo um torneio maior, com mais times que não apenas os campeões continentais? Os representantes da Conmebol, da Oceania e da Ásia que agora estão no Japão disputaram seus torneios continentais sem terem sido campeões de seus países. Se o vice-campeão brasileiro pode ser campeão da Libertadores, por que o vice da Libertadores não pode ser campeão mundial?

Façamos um exercício de imaginação: um Mundial de Clubes com 16 participantes, divididos em quatro grupos. A Conmebol indicaria os quatro primeiros colocados da Libertadores, assim como a UEFA faria com a UCL, e as demais federações seus campeões e vices. Com base nos resultados deste ano, o torneio teria os seguintes participantes

Conmebol
Santos
Peñarol
Vélez Sarsfield
Cerro Porteño

UEFA
Barcelona
Manchester United
Real Madrid
Schalke 04

Concacaf
Monterrey
Real Salt Lake

CAF
Espérance
Wydad Casablanca

AFC
Al-Sadd
Jeonbuk Hyundai Motors

OFC
Auckland City
Amical


Dividindo as equipes em quatro grupos e tendo os campeões e vice da UEFA e da Conmebol como cabeças de chave, poderia-se ter o seguinte panorama:

Grupo A                  Grupo B                        Grupo C                   Grupo D
Santos                      Barcelona                       Peñarol                      Manchester United
Schalke 04              Cerro Porteño                 Real Madrid              Vélez Sarsfield
Wydad                     Jeonbuk                         Monterrey                 Auckland City
Amical                      Real Salt Lake               Al-Sadd                     Espérance

E agora vem o "pulo do gato": ao invés de realizar os jogos em um único país sede, os confronto entre as equipes do mesmo grupo seriam em seus respectivos estádios, ida e volta: o Santos jogaria em Gelsenkirchen, no Marrocos e em Vanuatu e receberia seus três adversários na Vila; o Barcelona jogaria na Olla; Real Madrid e Peñarol duelariam no Santiago Bernabéu e no Centenário, mas também jogariam no México e no Catar; a imprensa esportiva inglesa, argentina e tunisiana voltaria sua atenção para a Nova Zelândia. Os dois melhores de cada grupo se classificariam para disputar as quartas-de-final, em jogos de mata-mata, de onde sairiam quatro semifinalistas e por fim as grandes finais, em dois jogos, sendo que aquele com melhor desempenho decidiria em casa.

Teríamos um torneio de clubes realmente mundial. Havendo mais jogos entre grandes clubes aumentariam as atenções voltadas à competição e com o passar do tempo até poderiam surgir algumas rivalidades transcontinentais. E os pequenos? Talvez o sonho de ser campeão do mundo se torne até mais difícil, mas ganhariam uma visibilidade que nunca tiveram até então. Atualmente, qualquer congolês com um pouco de talento já é levado, com 12 anos, para a terceira divisão francesa. Com a perspectiva de visibilidade e valorização, os times dos demais continentes não precisariam aceitar qualquer proposta que chegasse do Dynamo Vladivostok querendo levar suas promessas. O mundo passaria a dar mais atenção ao futebol praticado "na periferia".

Com um número maior de participantes aumentaria muito o interesse pelo torneio. Se formos analisar os times que teriam participado da competição desde 2005, quando o atual formato foi implementado, mas sob os critérios hipotéticos aqui sugeridos, já teriam acontecidos jogos do Mundial de Clubes nos seguintes países: Egito, Tunísia, Camarões, Congo, Nigéria, Marrocos, Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Uruguai, México, Costa Rica, Estados Unidos, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Síria, Irã, Coréia do Sul, Austrália, Catar, Polinésia Francesa, Ilhas Fiji, Ilhas Salomão, Nova Zelândia, Papua Nova Guiné, Vanuatu, Inglaterra, Holanda, Itália, Espanha, Alemanha e França. As últimas fronteiras do futebol seriam definitivamente desbravadas.

Claro que há muito de utopia nesta ideia, inclusive vejo até alguns pequenos empecilhos que dificultariam sua implementação, especialmente em relação aos longos deslocamentos e as datas para os jogos. Nos resta apenas torcer para o rápido desenvolvimento da aviação supersônica comercial ou talvez para que os cientistas descubram alguma maneira para diminuir a velocidade do movimento de translação da Terra.

Quem sabe um dia...


segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

O ponto mais alto de Cerro Largo

Aprendemos de pequeno que a nossa Cerro Largo fica num buraco, o que é uma grande maledicência apesar da comprovada irregularidade do relevo. Não sei se podemos definir  como "vale" o local onde o centro da cidade foi instalado, mas é fato que ao redor deste o terreno se eleva nas várias direções: ao leste o declive primeiro aumenta devido aos cursos dos arroios Clarimundo e Encantado, mas logo eleva-se sutilmente na região do Bairro Brasília; ao norte tem-se os morros Santa Maria, "dos Perim" e da Clínica (de onde eu tirei a foto abaixo, em 2005), que separam a cidade da BR 392, depois da qual a subida continua com os morros da Atolosa, da Marreca e da Reserva, para daí descer até o rio Comandaí; a oeste temos as elevações onde está sendo construída a sede da UFFS e os bairros Santo Antônio e São Fernando; e ao sul o Morro do Convento, de onde o terreno desce até o leito do rio Ijuí.

Agora, dentre todos estes morros, qual seria o mais alto?
Pouca gente sabe, mas o ponto mais elevado de Cerro Largo fica entre as Linhas Reserva e São João Norte. O local, que fica em uma propriedade rural, está demarcado com um monolito que foi ali colocado em dezembro de 1950, provavelmente pelo exército.
 (Eu em 2005, com mais cabelos e jovialidade).


segunda-feira, 28 de novembro de 2011

28 de novembro

Quase passou despercebido, mas o dia de hoje representa muito para o meu, digamos, "Gremismo". Dois dos momentos mais marcantes da minha vida de torcedor aconteceram justamente neste dia, com apenas um ano de diferença entre eles.
Em 1995 houve a final do Mundial, contra o Ajax. Eu tenho um aperto no peito só de lembrar daquela manhã, a última em que passei no nosso apartamento em Horizontina antes de ir para meu intercâmbio na Alemanha: que judiaria, que injustiça. O Grêmio foi forte, valente, mas... 
Foi uma das poucas vezes que o futebol me fez chorar. Perdemos, mas saímos de cabeça erguida.

Um ano depois eu estava em Porto Alegre, havia começado o meu cursinho pré-vestibular no Mauá há poucos dias e o Grêmio disputaria a segunda partida das quartas-de-final do Brasileirão de 96 contra o Palmeiras, naquele que foi o maior clássico brasileiro da década de 90. Pela primeira vez na minha vida tive a oportunidade de assistir um jogo ao vivo no Olímpico. Até hoje fico arrepiado ao lembrar-me da emoção que senti ao ver a luz dos refletores ainda dentro do T2 lotado.
O jogo foi a cara do Grêmio do Felipão: começamos perdendo mas viramos na segunda etapa (os jogadores devem ter ouvido poucas e boas no vestiário), com gols de cabeça. Que festa! Que alegria! Inesquecível.



A lembrança ficou a cargo do site Grêmio Hoje. Muito obrigado.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

No egoísmo selvagem

Uma pessoa que é capaz de abrir mão de tudo o que tem para ir em busca de um sonho e para quem o mais importante é a sua liberdade. 

Àqueles que estão cheios de trabalhos para fazer e responsabilidades para administrar, é provável que isso desperte uma certa inveja. Afinal, quem não gostaria de ser livre para fazer o que quiser, independente da opinião dos outros?

Isso foi o que almejou Christopher McCandless, cuja história inspirou o livro e depois o filme Na Natureza Selvagem (ou no original, Into the Wild). Apesar de ler e ouvir muitos elogios a respeito da história, demorei para ver o filme, embora tenha quase comprado o livro no século passado, quando o tive em minhas mãos à sombra dos jacarandás da Praça da Alfândega. Acabei devolvendo-o ao livreiro, o que se mostrou ser uma sábia decisão: a minha imaturidade de então certamente faria com que eu formasse uma opinião equivocada a respeito do protagonista e não percebesse nele a figura incoerente, egoísta e incapaz de amar que ele realmente foi.

Chris, apesar de criticar com veemência a sociedade, o dinheiro, a carreira profissional, o apego aos bens materiais, não se furtou em se valer de frutos desta mesma sociedade para se manter: afinal, se a humanidade fosse formada por indivíduos misantropos como ele nunca conseguiria atingir os avanços tecnológicos e o conhecimento que temos hoje em dia r que nos permite constuir carros, trens, armas de fogo, lunetas, facas, imprimir livros e confeccionar roupas para suportar o frio. Por trás de um saco de arroz há milênios de evolução da agricultura, irrigação, agronomia, geologia, química e até metalurgia. Foi a sociedade desprezada por ele que lhe possibilitou matar a fome com arroz cozido após suas infrutíferas caçadas. Um mundo sem relações comerciais, sem empresas, sem pessoas dedicadas ao trabalho, sem responsabilidades conseguiria construir um ônibus como aquele em que ele se protegia do frio? (Aliás, um belo International Harvester K-5 de 1946, segundo o IMCDb, de onde eu "roubei" a foto abaixo). Por que ele não cavou um buraco na terra, usando somente às mãos, é claro? Por que não construiu uma casa com pedras?


Numa tentativa de justificar a revolta do rapaz, em certo momento o filme começa a retratar antigos conflitos familiares, a péssima relação entre seus pais, a vida de aparências, a relação fria entre pais e filhos, motivos que teriam sido determinantes na formação da personalidade do protagonista. O que ele faz? Tenta reconciliar seus pais, mostrar-lhes que estão errados? Não, ele era egoísta de mais. Pouco importava a situação de seus pais, o que eles pensavam, como estavam e o quanto eles sofreriam com sua partida e com a impossibilidade de restabelecer contato. Apenas a satisfação pessoal lhe interessava. Como se ele não tivesse nada a ver com tudo o que seus pais estavam passando, que tudo aquilo não era seu problema também. Muito melhor e mais fáciel é sair andando sem rumo pelo país.

Mas o grande problema do nosso "herói" era outro. Chris mostrou-se uma pessoa incapaz de amar: nem seus pais, nem a hiponga que queria transar com ele, nem ninguém durante toda a história. Àqueles que poderiam ser-lhe úteis para atingir o seu intento, Chris dispensava certa cordialidade, mas nunca amor. Com isso, conseguia angariar alguma simpatia por onde passava, o que facilitava sua tarefa de viver às custas dos outros. Mas para quem não lhe era útil restava apenas e seu desprezo. Dado momento ele vê um sorridente jovem de terno em uma lanchonete e sobre este rosto projeta o seu, como se esse fosse o futuro que lhe estaria reservado caso continuasse seus estudos ou começasse sua carreira profissional. Na sua mente egoísta viu um escravo do "sistema", um alienado, indiferente à miséria que existia naquelas ruas e que aliás devia até ser um dos responsáveis por tudo aquilo. Pouco importava se na verdade tratava-se de um jovem dedicado, estudioso, querido por todos, que visitava com frequência seus pais ou seus avós, talvez até um responsável pai de família. Se ele estava feliz e bem vestido, é porque era cúmplice de todo o mal do mundo.

Por fim, Chris consegue seguir o seu caminho e chegar ao seu destino. Não quero entrar no mérito do quanto deve ser divertido morrer de fome, frio e dor de barriga num lugar lindo como o Alasca. Para mim, "Alex Supertramp" foi um baita idiota.

sábado, 29 de outubro de 2011

O que eu vou dizer para os meus filhos?

A cena se repetiu inúmeras vezes: ao final do dia, um grupo de jovens vestidos de branco trocava o prédio da faculdade por um apartamento nas proximidades, a clínica pelo Play Station, o famoso "motorzinho" pelos joysticks, o flúor pela cerveja, a busca por um sorriso perfeito pelo Winning Eleven.

Como éramos felizes! 

Uma vez por semana, as emocionantes disputas virtuais davam lugar a jogos de verdade. O campeonato estava chegando ao seu final e o nosso time vinha crescendo, com destaque para um jovem franzino e com os dentes completamente desalinhados, que raramente ficava um jogo sem deixar o seu. O cara era um monstro, fazia milagres com a bola nos pés e enchia toda a torcida de orgulho. Recordo-me bem de uma noite, quando extasiado tanto pelo golaço que o craque marcara quanto pela cerveja que bebera, levantei-me do sofá e exclamei:

- Vou poder dizer para os meus filhos que vi esse cara jogar!


Muito tempo se passou desde aquela noite e nem tudo foram sorrisos bonitos nestes onze anos. O jovem craque deixou seu clube de um modo bastante tumultuado e que ainda hoje suscita dúvidas. Mas uma coisa é certa: ele e quem o assessorava em todo o momento tiveram ciência de tudo e foram cruciais para este desfecho. Pouco importa se o que foi feito estava dentro da lei e da legitimidade. O jogador traiu a confiança da torcida, e aqui no interior a gente aprende que confiança é algo difícil de se conquistar mas muito fácil de se perder. Ele foi embora e de um modo que não deixou saudades. 

Por isso o meu espanto ao ver sua imagem junto à de outras revelações das categorias de base do clube durante a Convenção Consular de 2009, numa apresentação do projeto para o CT que está sendo construído. Não via seu rosto no estádio desde a final do estadual, nove anos atrás, e não podia acreditar que aquele semblante estava ali novamente. Na hora me dei por conta de que a direção do clube estava tentando se reaproximar de quem se afastara por vontade própria, fato que confirmei pela presença do irmão dele num jogo festivo. Para o meu alívio, a grande e barulhenta maioria da torcida também não queria que ele estivesse lá.

Mas o pior estava por vir: o clube admitiu tratativas para trazê-lo de volta. Mas como assim? E o passado do cara, não dizia nada? Como confiar em alguém como ele? E nem levava em conta o fato dele estar em fim de carreira, sem demonstrar um futebol convincente há muitas temporadas. Era uma questão de orgulho, de não abrir as portas a quem nos desprezou. Manifestei minha contrariedade, assim como muitos o fizeram. Mas para meu espanto, muitos queriam que ele voltasse...

Pois é... como confiar em alguém como ele? Tem um ditado (chinês, creio eu) que diz "se te enganam uma vez, a culpa é de quem te enganou; se te enganam pela segunda vez, a culpa é tua". Todos conheciam com quem estavam lidando. O resultado não me espantou nem um pouco. E fico feliz por isso.

Nesse seu "quase retorno" falou-se até na palavra perdão. Sentimento muito nobre, eu sei, mas mesmo Aquele que disse que devemos perdoar a quem nos tem ofendido nunca dissociou o perdão do arrependimento. E em nenhum momento esse jogador demonstrou estar arrependido pelo o que fez conosco.

Honestidade, caráter, sinceridade, lealdade, respeito... aprendi tudo isso com o meu pai e pretendo ensinar aos filhos que ainda não vieram. E se não posso mais me orgulhar da passagem desta pessoa pelo nosso time, ao menos ele servirá de exemplo de conduta que não quero que meus filhos tenham.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Ponto Final.

Ele pegou o livro, num misto de desconfiança e contragosto. Folheou-o rápida e aleatoriamente, parando na página 29, início do capítulo referente aos índios, tema que lhe é caro. Fixou-se nesta página e começou a lê-la. Caso tenha feito desde o primeiro parágrafo, o texto é este abaixo:

"Em 1646, os jesuítas que tentavam evangelizar os índios no Rio de Janeiro tinham um problema. As aldeias onde moravam com os nativos ficavam perto de engenhos que produziam vinhos e aguardente. Bêbados, os índios tiravam o sono dos padres. Numa carta de 25 de julho daquele ano, Francisco Carneiro, o reitor do colégio jesuíta, reclamou que o álcool provocava "ofensas a Deus, adultérios, doenças, brigas, ferimentos, mortes" e ainda fazia o pessoal faltar às missas. Para acabar com a indisciplina, os missionários decidiram mudar três aldeias para um lugar mais longe, de modo que não ficasse tão fácil passar ali no engenho e tomar umas. Não deu certo. Foi só os índios e os colonos ficarem sabendo da decisão para se revoltarem juntos. Botaram fogo nas choupanas dos padres, que imediatamente desistiram da mudança."

Mesmo percebendo sua aparente reprovação, resolvi provocar:

- Leve-o com o senhor, umas 3 ou 4 noites de pouco sono são suficientes para o ler.
- Não, obrigado - respondeu com a calma que lhe é peculiar - o que eu li já me basta para saber que isso não pode ser levado a sério.

A desaprovação do meu paciente somente reflete parte do sentimento causado pelo livro Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, de Leandro Narloch. Afinal, a publicação trás algumas "verdades inconvenientes" sobre fatos e personagens da história do nosso país. Muitas pessoas não gostaram nem um pouco de saber (ou do fato de muitos finalmente descobrirem) que os índios brasileiros não eram assim tão cuidadosos com a natureza, que o líder negro Zumbi tinha escravos, que o Paraguai era um país muito pobre já antes da guerra, que os movimentos armados que lutaram contra o governo militar no Brasil não queriam a democracia mas sim uma ditadura ao gosto deles... enfim, coisas até bastante óbvias mas que sempre passaram batido nas aulas de história devida à elevada carga ideológica à qual os alunos são submetidos.

Apesar de fartamente embassado em referência documentadas, o autor deixa bem claro o intuito provocativo e até um pouco exagerado do livro, o que de maneira alguma arrefeceu os nervos de quem se ofendeu com o que leu.

Mas se por um lado o livro causou alvoroço e indignação, especialmente na patrulha ideológica, por outro lado ele mostrou que existe uma grande parcela da população sedenta por um posicionamento contrário, com uma visão distinta do coitadismo que coloca nos outros a culpa por todas as nossas mazelas.

Ps. terminei de ler este livro em outubro do ano passado e somente relatei aqui após ficar sabendo do lançamento de sua continuação, o Guia Politicamente Incorreto da América Latina.  Esta minha morosidade até que ajuda na minha tentativa de me livrar da imagem de "leitor voraz", de um "devorador de livros", imagem esta que por muito tempo eu mesmo alimentei. Sou uma pessoa normal, tá gente!, até meio preguiçoso com minhas leituras. Que fique bem claro.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

iGermano

Apesar de oficialmente ainda estarmos no inverno, aquele foi um dia com temperaturas bantante agradáveis. Eu estava num subúrbio de Bremen, na casa do responsável pelo intercâmbio que me levara à Alemanha, mas não me recordo o que eu fazia por lá. Além das condições climáticas, a única imagem que ainda trago daquele dia foi a do computador que o filho dele estava usando...

Era um Macintoch, parecido com este abaixo:


Foi um momento mágico para mim. Naqueles últimos anos do século passado, informática somente era do interesse de loucos ou nerds (eu me enquadrava mais no segundo grupo) e o modo mais acessível de se ter um computador era comprando um montado com peças feitas em Taiwan, via Paraguai (parece irreal, mas essas coisas ainda não vinham da China continental). E não era barato, exceto se comparado com os computadores comprados legalmente no Brasil.
E se já éramos um grupo restrito havia um mais seleto ainda, formado por aqueles que usavam Macintoch. Era quase como se fossem uma sociedade secreta, pois ninguém nunca tinha visto um ao vivo, quando muito apenas ouvido falar de alguém que tinha uma dessas máquinas em casa, que tinha trazido dos EUA ou gasto uma fortuna comprando aqui. Dizia-se que menosprezavam os PCs com seus DOS e Windows, que quem usava uma máquina da Apple nunca mais iria querer outra, que os computadores deles eram muitos melhores, mais fáceis de usar, mais simples...

Eu nunca achei DOS/Windows complicados demais para o que eu exigia deles, até pensava que toda essa mística em torno daquelas máquinas tinha muito de exagero, mas mesmo assim fiquei estupefato diante daquele computador. Era como estar diante de uma Ferrari. Um objeto desejado, cultuado, inalcansável aí na minha frente. Meus anfitriões devem ter percebido o meu nada discreto olhar de admiração. Lembro-me de que tentei perguntar qual era o sistema operacional usado, mas o cara não entendeu e apenas me mostrou um programa qualquer (naquela época se dizia "programa" e não "aplicativo"). 

Foi uma experiência breve mas marcante. Apesar de ver apenas uma interface gráfica diferente daquelas às quais eu estava acostumado, sabia estar diante de algo extraordinário.

O tempo passou e a Appel se reinventou. Sob a batuta do agora finado Steve Jobs lançou um monte iProdutos que deixaram a marca acessível ao público mas sem perder a magia que a envolve e que a tornou uma referência na área. Não sou um applemaníaco, tenho apenas um iPad e gosto muito mais do conceito tablet (que considero a maior invenção tecnológica dos últimos tempos) do que do iPad em si, mas não vou citar minhas restrições à marca neste momento por respeito a Steve Jobs. Afinal este texto é, a sua maneira, uma homenagem a este gênio.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Canais de TV na América Latina: 6 dicas e 1 furada

Não que eu seja um turista muito experiente, pelo contrário, viajo muito menos do que eu gostaria, mas acredito que nos últimos tempos consegui acumular alguma "bagagem" que me permite dar conselhos a respeito de viagens aos países vizinhos.
Talvez muitos possam pensar:  "mas quem vai olhar muita televisão em suas férias?". Respondo então que sempre há momentos em que a TV do quarto do hotel pode ser ligada, criando uma oportunidade única de imersão na cultura do local que estamos visitando. Seja ao acordar, seja antes de dormir mas principalmente esperando a esposa se arrumar, sempre surge um tempinho para conferirmos o que nossos anfitriões assistem. Aqui vão 6 dicas de canais que merecem uma olhadinha, além de um que deve ser evitado:











  

El Gourmet.com
Um canal dedicado à boa mesa, não se restringindo apenas às receitas mas a todo o universo da gastronomia, como seus aspectos culturais, vinhos, viagens e até etiqueta. Aprenda a preparar tacos, conheça a Patagônia, descubra com qual prato aquele carménère da região do Maipo harmoniza, além de como organizar a mesa para um jantar informal, tudo isso enquanto sua esposa arruma o cabelo.














HTV
Canal de música dedicado a artistas latinoamericanos, a imensa maioria desconhecidos no Brasil, com uma temática bastante caliente. Muitos clips têm um apelo visual muito semelhante, abusando de locações em praias caribenhas, com muito sol, caras fortões e moças com os corpos em dia e hectolitros de silicone, enquanto que outros têm nítida inspiração na música americana, com mansões, carros esportivos, muito ouro, cantores com muitos amigos e coreografias idiotas. Num primeiro momento, certos ritmos podem soar estranhos, como é o caso do reggaeton, mas até é bom para ir se acostumando, pois em alguns lugares ele é onipresente.














El Garage TV
Canal que explora exclusivamente o universo automotor, com programas sobre as novidades da indústria, carros clássicos, esporte, mecânica, acessórios, isso durante todo o dia e não só numa horinha perdida nas manhãs de domingo como é o caso do Autoesporte. Pra quem é apaixonado pelo tema trata-se de uma ótima dica.








Destinos TV.com
Um canal costariquenho sobre viagens e turismo, dedicado a todo o continente americano, com muitas matérias sobre a América Central, área normalmente pouco explorada pelos programas aos quais temos acesso. E nada como planejar a próxima viagem enquando ainda nem terminamos a outra.

Aliás, vendo canais específico a respeito de certos temas, percebe-se como a grade de programação das TV's por assinatura no Brasil, apesar da enorme quantidade de canais, ainda é bem pobre e passível de evolução.


Emissoras locais
Um modo muito eficaz de conhecer melhor um país, seu dia-a-dia, os costumes e os hábitos dos seus moradores é através da programação das emissoras locais. Tanto o noticiário como até mesmo os comerciais nos ensinam muito a respeito de um local. Canal 13 e Mega no Chile, RCN e Caracol na Colômbia, Teledoce no Uruguai, para ficar com alguns exemplos, além das emissoras regionais ou provinciais, todas merecem um pouco de atenção.












Globo Internacional
Se você é como o Neymar e o Daniel Alves e não pode perder um capítulo da novela das oito nove, ou não quer esperar até a volta para saber quais os novos ministros brasileiros envolvido em denúncias de corrupção, é possível acompanhar a maior parte da programação da Globo, com algumas horas de atraso em relação à hora de Brasília.



E para terminar, o canal que deve ser evitado, ou então não levado a sério:












Telesur
Quem for muito curioso até pode perder um tempo assistindo a TV do Chávez, mas como diria o Pedro, "é uma cilada, Bino!". Sua programação é baseada em notícias e documentários com carregado conteúdo ideológico, uma espécie de lavagem cerebral à distância. Os progressos(?) conquistados pelo socialismo na Venezuela são repetidamente enfatizados, países e governantes que são a fina flor do atraso, como Cuba dos irmãos Castro e Bolívia de Evo Morales, estão sempre na pauta, recebendo generosos elogios. Tiranocracias com Irã, Síria e Líbia também recebem muitos afagos e visibilidade, ao mesmo tempo em são feita críticas ferrenhas aos Estados Unidos, à Colômbia, a Israel e à Igreja, que sempre são citados num contexto depreciativo. Num primeiro momento, chega a ser cômico, mas duvido que cubanos e venezuelanos devam achar graça nenhuma nisso tudo.

domingo, 17 de julho de 2011

O país dos coitados

Já disse que tenho por hábito elaborar roteiros de viagens, mesmo sem saber quando poderei executá-los e nem mesmo se conseguirei. Mas além de um passatempo trata-se de uma forma de estímulo, pensar no locais que pretendo conhecer me incentiva em meus estudos e no meu trabalho.

Meus roteiros costumam fugir um pouco do óbvio. Locais como Porto Seguro, Rio de Janeiro, Fortaleza, para citar alguns, não me atraem. Agora, quem se interessaria em conhecer Asunción?

Um dos roteiros que tinha em mente há muitos anos era ir até Corrientes, na Argentina, subir até a fronteira com o Paraguai, entrando no país por sua capital Asunción, descer até Encarnación e voltar ao Rio Grande por Posadas, e pude pô-lo em prática no começo deste ano. O engraçado é que as poucas pessoas para as quais eu contei da minha viagem me perguntavam se eu iria para lá fazer compras. Mas é compreensível, essa é uma associação que se faz automaticamente, Paraguai e compras estão unidos de modo umbilical. É claro que eu aproveitaria a oportunidade, mas comprar não era a minha prioridade, eu queria mesmo era conhecer o país, sua capital, sua gente, sua comida, e não apenas seus locais destinados ao "comércio exterior", que aliás eu já tinha visitado.

Após percorrermos as empobrecidas e monótonas paisagens das províncias de Misiones e Corrientes (o plural se refere a minha esposa e eu), costeando o rio Paraná por boa parte do trajeto, e nos incomodarmos com a maldita gendarmeria, chegamos à capital correntina. Trata-se de uma cidade bastante antiga, às margens do rio Paraná, com uma bela costaneira. Aliás, como os castelhanos aproveitam bem o entorno de seus rios criando locais agradáveis para passear, tomar mate, jantar. Em Corrientes o destaque fica para o Paseo Franciscano (foto), junto a um antigo convento da Ordem de São Francisco.



Não se precisa de mais do que um dia para aproveitar a cidade. Atravessando a enorme ponte sobre o rio Paraná entramos na província de Chaco, cuja capital Resistência está localizada a poucos quilômetros da divisa.

Eu sou uma pessoa simples, que costuma ver e valorizar o lado bom e belo das coisas. Mas os chaqueños que me desculpem, mas a sua capital é bem sem graça. Sorte nossa que escolhemos um hotel excelente, a um preço muito acessível. Aliás, pelo preço até vale a pena ficar lá uns quatro dias tomando Chandon à beira da piscina.



Mas a viagem continua: mais alguns quilômetros em direção ao norte, rumo a Asunción. O roteiro original contemplava uma rápida visita ao outro lado da fronteira, na cidade paraguaia de Humaitá, palco da famosa batalha na Guerra do Paraguai. Mas a grande dificuldade seria a travessia da fronteira. Seguimos em frente. Ainda em território argentino, cruzamos pela província de Formosa, uma das mais pobres do país, onde paramos para conhecer a capital homônima. Aliás, Formosa deve ser o nome de uma tribo indígena que habitava a região, ou de algum rio. É a única explicação para uma cidade tão feia ter um nome assim.

Mais alguns quilômetros e chegamos à cidade de Clorinda, na fronteira com o Paraguai. Após uma longa jornada, finalmente entramos em território guarani.



Continua... ou não...
(Texto escrito durante a vergonhosa apresentação da seleção brasileira de futebol, que acabou sendo eliminada pelos paraguaios na Copa América)

sexta-feira, 24 de junho de 2011

O time errado

Torcemos para o Peñarol. Sim, torcemos. Pelo bem do futebol, pelo país, pela história, mas principalmente contra estas criações midiáticas que estão transformando o futebol num espetáculo plástico. Mas torcemos de cenho franzido e de nariz tampado, pois sabíamos que o Futebol estava sendo representado pelo uruguaio errado. O time onde atuaram Diego Aguirre e Elías Figueroa nunca teria culhões para este embate (tanto que nos 180 minutos não chegou uma única vez com perigo ao gol santista), nunca seria digno da nossa torcida.

Caberá ao Nacional de Hugo de León a tarefa que o rival carbonero não teve competência para cumprir.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Ponto Final.

A literatura sobre futebol é ainda bastante incipiente no Brasil, mas a cada ano aumentam os lançamentos sobre o tema. Histórias e personagens temos de sobra, muitos ainda desconhecidos do grande público, apesar do currículo invejável. Um desses exemplos é o do jogador Bebeto. Não o baiano, mas sim o Canhão da Serra, que marcou 398 gols em sua carreira (somente 3 a menos do que o homônimo baiano) e que marcou época no Gaúcho de Passo Fundo.

A história do craque e uma completa ficha com suas partidas, os clubes onde atuou e os gols que marcou podem ser encontrados no livro Bebeto, o Canhão da Serra, do jornalista Lucas Scherer, e que eu recebi de presente do meu amigo Marcus Freitas (valeu, Marcão).

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Hincha carbonero, com orgulho.

Um dos bordões mais imbecis das transmissões esportiva é aquele que diz "hoje o time tal é o Brasil na Libertadores".

Sim, e daí? E eu com isso? Agora eu não posso mais escolher para que torcer? O fato de ter nascido neste país me obriga a torcer pelos times daqui? Dai-me paciência, Senhor!

Sou do tempo em que ter uma Libertadores da América era algo exclusivo, orgulho para apenas um pequeno e seleto grupo de equipes, dentre estas o Grêmio. Por que diabos eu gostaria que um Palmeiras, um São Paulo, um Vasco também tivessem este motivo de orgulho? Onde ficaria a exclusividade?

Mas o mundo dá voltas e não cessa de dar provas de quanto é injusto. A competição que era para poucos se banalizou e times de menor expressão a conquistaram. Acabou-se a exclusividade.

Mesmo assim não perdi velhos hábitos: se não é para o Grêmio ganhar, que seja qualquer um não-brasileiro, ou paraguaio, ou argentino, ou colombiano, na emergência até um mexicano, mas nunca um Flamengo, um Fluminense, um Cruzeiro, um São Caetano...

Hoje começa a ser decidida a Libertadores 2011. De um lado temos o Santos, o queridinho da mídia com seu astro cai-cai Neymar. Do outro o Peñarol, com sua história, sua camisa, sua raça e a minha torcida: além de ser o não-brasileiro da vez, representa o país com o qual eu tanto simpatizo, que gosto tanto de visitar e que tantas boas recordações me trás.

Sei que será uma tarefa árdua, mas seria muito lindo ver a sofrida torcida carbonera vibrando com esta conquista. O futebol perde muito sem o protagonismo da seleção Celeste e de seus dois grande times. Vamos, Peñarol, pelo bem do futebol

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Que país é esse?

Como sou muito prestativo, ontem eu estava fazendo a minha parte para ajudar no consumo da energia que está sendo produzida pela usina que foi construida aqui pertinho, deixando a TV ligada em um canal de clipes musicais, mesmo sem assistir coisa alguma. De repente, a música abaixo chamou a minha atenção:

Confesso que gostei da música, mas o que mais despertou a minha curiosidade foi o cenário. Pensei cá comigo "conheço esse país". Comecei então um exercício de observação e lógica, 1+1=2: a fisionomia dos figurantes não me era estranha; um caminhãzinho antigo andando; casas construídas junto à calçada, com um aspecto antigo, meio decadente, algumas motocicletas...

Até a vegetação me pareceu conecida. Somente tive uma dúvida ao ver uma vitrine com o preço de alguma roupas, que achei muito baratas pela cotação da moeda local. Mas as outras evidências eram muito fortes. Esse clipe foi rodada no país X.

Procurei pelo nome da banda na internet e... na "katofla", como dizem aqui. Lógico que eu acertei mais esta.  Não contavam com minhas astúcia, diria o saudoso Chapolim.

Aliás, já está quase na hora de voltar para lá, meu parmezão está terminando...

sexta-feira, 8 de abril de 2011

A voz que ninguém quer ouvir

Estava tudo programado: atenderia meu último paciente, sairia do consultório pelas 19:10, daria uma rápida caminhada e estaria em casa para ver o início do jogo do Grêmio. Como no mundo real as coisas nem sempre acontecem como a gente gostaria, e como fiz meus cálculos sem margem de erro, um pequeno inconveniente me reteve em meu trabalho por mais um tempinho. Saí quando o ponteiro dos minutos já iniciava sua subida.
Caminhando apressado, vejo um conhecido no outro lado da rua, gremista também, sentado com um radinho de pilha. Pegunto-lhe coloquialmente:
- Já 'tamo' ganhando'.
Ele, com uma expressão de desconforto, responde:
- Não sei, não tão passando.
Na hora lembro-me do que ouvira há pouco na Gaúcha: as rádios não transmitiriam o primeiro tempo de jogo por causa da Voz do Brasil.
Por que essa arbitrariedade? O governo já gasta bilhões com publicidade, por que obrigar as rádios a transmitir este programa que há muito tempo perdeu a razão de ser e que só desperta aversão? Em todas minhas andanças (colégio, faculdade, pós-graduação, viagens) nunca soube de ninguém que gostasse de tal programa.
Quantas pessoas ficaram sem seu futebol ontem à noite por causa desta propaganda institucional obrigatória?
Acabem com essa droga de Voz do Brasil de uma vez por todas!

terça-feira, 29 de março de 2011

Parabéns Dom Paulo Moretto

Quero deixar aqui os meus sinceros parabéns ao bispo da Diocese de Caxias do Sul, Dom Paulo Moretto, que em nota desaprovou o fato ocorrido em Garibaldi, onde um casal atrás de seus 15 minutos de fama, celebraram o sacramento do matrimônio fantasiados de Shrek e Fiona.
 
"Para a celebração do sacramento do matrimônio, nós católicos temos ritos e linguagem adequados. Ritos litúrgicos, catequéticos e adequados às culturas e situações e fundamentados na fé e não inspirados na imaginação e na fantasia." - esclareceu o bispo.

Se querem fazer algo assim, que o façam na festa, na praça, no clube, na lua-de-mel, sei lá, em qualquer outro lugar fora do ambiente religioso. Ninguém é obrigado a casar na Igreja, mas se assim quiserem que o façam de acordo com as regras.


 
 

domingo, 27 de março de 2011

Ei de ir: Cartagena de Indias

"No final de uma jornada de saltos mortais por uma estrada dura e cheia de curvas, o ônibus do Correio exalou seu último suspiro onde merecia: encalhado num manguezal pestilento de peixes podres a meia légua de Cartagena de Índias. (...)
O motorista saltou da boléia e anunciou com um grito mordaz:
- Lá está a Heróica.
Este é o nome emblemático pelo qual se conhece Cartagena de Índias, graças às suas glórias do passado..." (Trecho de Viver para Contar, de Gabriel García Márquez).

Cartagena de Índias é uma cidade que sempre despertou minha curiosidade. Um local onde posso aliar meu gosto por cultura hispano-americana, arquitetura colonial, história e piratas. Não está entre os destinos mais procurados pelos brasileiros, mas este definitivamente não é um parâmetro muito confiável.


A cidade foi um dos principais portos da América Espanhola, por onde era escoada grande parte da prata das minas de Potosí e outras tantas riquezas que tinham a Europa como destino. Devido ao constante assédio de piratas e corsários, a cidade construiu um muro para tentar protegê-la, algo comum na época. Esta edificação ainda existe, algo pouco comum hoje em dia.


 Dentro da "cidade amurada" encontram-se verdadeiras joias da arquitetura colonial. Uma considerável quantidade de construções mantêm as característica do passado. Atravessar esta muralha é como entrar em uma máquina do tempo.


Não sei dizer se o colorido das casas remete às preferências da época em que foram construídas. Além da profusão de cores, as sacadas de madeira também são marcas registradas do local. Muitas destas construções foram restauradas e hoje abrigam hotéis, restaurantes, lojas, enfim, lugarem onde os turistas podem gastar seus dólares.



sexta-feira, 18 de março de 2011

Breves Notas (3)

Ao invés de se preocupar com o Oriente Médio, onde a diplomacia americana está dando uma aula de incompetência, o presidente Obama vem ao Brasil, com direito a discurso. O que será que ele tem a nos dizer? Contestado em seu país, e longe de conseguir ser a liderança mundial que o cargo exige, talvez pense em manter sua imagem fora de seu país.

Coitados dos americanos, como devem sentir falta de um Ronald Reagan:



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Meu amigo Everton disse-me certa vez que um dos sintomas de que a gente está ficando velho é estar sozinho em casa e baixar o volume por achar que a música está muito alta.

Outro sintoma é deixar de se preocupar com o que os outros vão pensar sobre aquilo que fazemos ou dizemos. Por exemplo, no passado eu não diria aos quatro ventos que eu fui ao show da Shakira. Hoje, eu digo que fui e gostei, pensem o que quiserem.

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 E o meu Grêmio? Ao que tudo indica, não vamos longe nesta Libertadores. Mas apelemos para a ingenuidade: prefiro pensar que os erros desta fase inicial talvez possam ser corrigidos. Ser eliminados nas oitavas por um Caracas da vida deve ser muito frustrante...

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Muito estranho ontem: o Grêmio jogando pela Libertadores e eu ouvindo o jogo pelo rádio, trabalhando. Acho que isso nunca tinha acontecido.

¡Si, nosotros podemos!

A colombiana Shakira Isabel Mebarak Ripoll apareceu no mundo da música em 1996 com o álbum Pies Descalzos, dos sucessos Estoy Aqui e ¿Donde estás Corazón?. Aproveitando a mania dos álbuns acústicos da MTV, lançou o seu Unplugged em 2000. O vídeo abaixo é deste show.


Não que se trate de um caso de obesidade, mas se percebe claramente nas imagens que a cantora encontra-se um pouco acima do peso, até o figurino típico de quem deseja esconder 'medidas' a denuncia. 

Algumas pessoas diriam estarem satisfeitas com o corpo. Outras alegariam hipotireidismo, consumo de corticóides, enfim, algo inevitável e alheio às suas vontades. Outras ainda diriam que é necessário combater o bullying e que deveria haver poltronas maiores nos cinemas e nos ônibus, aviões... 

Shakira não.

Não sem passar por muito sacrifício, a colombiana agora exibe esta silhueta que pode ser vista no vídeo abaixo, e que minha esposa, eu e mais 20 mil pessoas pudemos conferir ao vivo neste dia 15 em Porto Alegre:


 Somente um pequeno comentário a respeito do show: ele foi muito bom. Ao contrário de muitos outros artistas, que optam por saturar suas apresentações com "penduricalhos" estéticos, como o U2 com suas 500 bilhões de luzinhas coloridas, o Kiss com seus fogos de artifício e os Rolling Stones com sua ponte retrátil, o show da colombiana é basicamente sua própria performance, cantando e dançando. Ela é o espetáculo, não se fazem necessários apêndices. E até Metallica ela cantou. Com uma batida caribenha, mas cantou.

Mas voltando ao tema: além de dinheiro para contratar os melhores nutricionistas, personal trainers e cirurgiões plásticos, o que a Shakira tem que lhe permite exibir um corpo assim que nós todos com o IMC maior do que 25 não temos? Como ela consegue ter esta silhueta enquanto que nós esbarramos naqueles quilinhos (ou até quilões) pra mais?

Estou convencido que tem algo a ver com disciplina e força de vontade. 

Pois bem, tomemos-na como exemplo. Parafraseando o Obama: "sim, nós podemos!".

quinta-feira, 10 de março de 2011

Jejuns

Numa sociedade em que a busca pelo prazer é cada vez mais estimulada pode parecer uma grande idiotice que alguém, por vontade própria, abra mão de coisas que lhe proporcionem prazer e satisfação.

Quem não gosta de comer? Tirando dois ou três enfastiados, todos têm alguma(s) comida(s) cujo consumo lhes causa satisfação. É inegável e até fisiologicamente explicável que a ingestão de alimentos nos proporciona um imenso bem-estar, tanto físico quanto psicológico. 

Sendo assim, existe nexo no fato da pessoa dispensar este bem-estar?

Não quero me ater às restrições alimentarem necessárias para se reestabelecer as condições ideais de saúde, como é o caso dos obesos, diabéticos, hipertensos, fenilcetunúricos, etc. Estou me referindo àqueles que praticam o jejum. 

A Igreja recomenda que se faça jejum em diversas oportunidades, mas principalmente nos dias que marcam o início e o fim da Quaresma, Quarta-feira de Cinzas e Sexta-feira Santa respectivamente. Muito mais do que um simples sacrifício, o jejum é um exercício de disciplina e auto-controle, no qual pomos à prova nossa capacidade de resistir aos mais variados desejos. Afinal, se consigo me abster de um bife gordo e mal passado é sinal que consigo fazer frente a instintos básicos e a prazeres tão imediatos quanto inconsequentes.

Existe uma intrepretação (equivocada) de que este jejum seria apenas abster-se da ingestão de carne de animais de sangue quente, ficando fora desta lista os peixes, cujo consumo estaria liberado (nunca pensei nisso, mas por esta lógica termo-sanguínea, jacaré e rã também estariam). Mas comer uma bacalhoada, um salmão, um risoto de camarão, isto lá é um sacrifício? Não é algo que foge da proposta, das circunstâncias?

O jejum não precisa ser uma "greve de fome". Uma refeição frugal ao meio-dia e uma janta bem simples já bastam. Além do alimentar, outros tipos de jujum também podem ser feitos: a pessoa pode se abster do carro, por exemplo. Nesta quarta, eu optei por ficar um dia sem internet, e até que não foi tão difícil assim.

É tudo uma questão de disciplina.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Breves Notas (2)

Apesar do meu local de trabalho ser na casa de meus pais, as vezes fico tempo sem conversar com eles coisas além de breves diálogos do dia-a-dia. É por isso que convidei meu pai para assistir o jogo do Grêmio ontem lá em casa. As sérias deficiências do time, as poucas perpectivas para esta Libertadores, a morosidade do meio-campo, nada disso prendeu-me muito minha atenção. Conversamos como há tempo não fazíamos. 

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"Pulei" carnaval durante mais de uma década, mas fui aos poucos deixando a festa de lado e hoje não passa de (mais) um feriado para mim. Além da idade e das responsabilidades da vida de casado, acho que me sentiria um estranho no bloco no qual eu sempre participei, pois a maioria dos meus amigos mais próximo também não estão mais lá. Mas parece que a festa não quer se livrar de mim,  tanto que pelo segundo ano consecutivo há um QG ao lado da minha casa, por sinal deste mesmo bloco do qual sempre participei, inclusive sendo presidente por três anos. Confesso que não me incomodo com o barulho, e fico feliz por saber que o K'CETA continua, e que ainda escutam rock n' roll.

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Agora, que coisa mais sem fundamento esses desfiles de escolas de samba. Como pode alguém gostar disso? Como conseguem ficar olhando esses cortejos intermináveis, ouvindo o mesmo refrão infinitas vezes, músicas das quais ninguém mais se lembrará daqui 20 dias.



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Descobri um novo minimizador de URL's: o Mazembe! mazem.be - o todo poderoso encurtador de URL
Testei e aprovei. O endereço do blog ficou http://mazem.be/1A
Recomendo.

terça-feira, 1 de março de 2011

Herr Loeffler

A cidade de Canoinhas está localizada no norte de Santa Catarina, divisa com o Paraná, na região do Contestado (você já deve ter ouvido falar dela em alguma aula de história). Durante décadas a economia local foi movimentada pela extração de madeira, material utilizado em muitas de suas casas, inclusive algumas de grande porte. Chama a atenção também o fato de que seus habitantes mantêm uma curiosa aversão a uma marca de carros italianos




Não chega ser um lugar muito bonito, e até onde eu sei não é considerada um destino turístico. Mesmo assim fiz questão de visitá-la na última etapa do roteiro que eu fiz pelas micro-cervejarias catarinenses. Após passar por Blumenau, Pomerode, Gaspar, Brusque, entre outras, rumei para Canoinhas, um pouco fora de rota, mas nada maior do que minha curiosidade. 
Através da internet descobri que lá havia uma cervejaria em funcionamento desde 1908, e administrada pelo Sr. Rupprecht Loeffler, com mais de 90 anos, cujo pai comprou-a em 1924. Num período em que praticamente todas as pequenas cervejarias foram absorvidas pelas médias, e estas pelas grandes, Herr Loeffler manteve-se firme e forte, sendo considerado o mestre-cervejeiro mais antigo em atividade no Brasil.
A Cervejaria Canoiense fica em uma construção de tijolos à vista, quase um galpão cercado com araucárias, típicas da região. Ao passar pela porta, onde se lê a inscrição "cerveja artesanal", é como se estivéssemos entrando numa cápsula do tempo. 
Numa mesa à direita da porta o anfitrião aguarda seus visitantes, sem nunca esquecer a gravata. Na ocasião, seu Loeffler gozava de boa saúde e de uma lucidez incrível para quem já estava com 90 anos. Também foi muito simpático e solícito, contando-me um pouco sobre sua cervejaria e suas caçadas com seu irmão mais velho, numa distante época em que a fauna e a flora da região eram abundantes. Disse que o motivo de apresentar tão boa saúde mesmo em idade tão avançada era o litro de cerveja que bebia diariamente. "Não tem conservantes", dizia ele, "é saudável", mostrando ser também bom de marketing.

Pouca coisa deve ter mudado lá dentro nas últimas décadas. Este primeiro ambiente é um misto de bar, recepção, escritório, depósito e museu, ricamente decorado com diversos animais empalhados, peles, fotografias, rótulos de bebida, e outras lembranças. Uma geladeira guarda não só a cerveja servida no local, mas também uma espécie de refrigerante de produção própria. Além das garrafas tradicionais de 600 ml na cor marrom, a cerveja também é acondicionada naquelas antigas garrafas de refrigerante de 1 lt.




Posso até estar enganado, mas acho que essa decoração atípica não fora feita visando deixar o local mais exótico e agradar os visitantes, mas sim porque era deste modo que o seu Loeffler gostava. Todas aquelas lembranças penduradas nas paredes de modo aparentemente aleatório faziam parte de sua vida, e se esta cervejaria era a sua vida, é normal que parte dela ficasse lá exposta, como fragmentos de sua memória.

 Nos outros ambientes é que são feitas todas as etapas necessárias para a produção da cerveja. Os equipamentos são os mesmo de muitas, mas muitas décadas atrás. Não perguntei, mas não me espantaria se descobrisse que são os mesmos de 1908.



Todos sabem que em matéria de entorpecentes sou um careta assumido, mas duvido que exista substância psicoativa capaz de produzir alguma sensação semelhante à que senti visitando este lugar. É impossível de descrever, tanto pela complexidade de emoções quanto pela minha deficiência literária. Nunca tinha vista nada semelhante e provavelmente nunca mais verei.



Por fim... a cerveja. Bem, é praticamente um consenso entre os "cervejólogos" que as cervejas da Canoiense deixam a desejar. Sem papas na língua, a nova leva de beer sommeliers classifica-as como "ruim". 
Maledicência! Sempre existem ciclistas metafóricos para atrapalhar o fluxo de nossas alegrias. É uma cerveja que foge do tradicional, mas aposto que se ganhasse o rótulo de uma lambic belga não faltariam admiradores ressaltando o "aspecto ácido proveniente de leveduras selvagens". 
Acontece que uma visita à Canoiense é muito mais do que apenas cerveja.

Bem, ao menos era até o último domingo, dia 27 de fevereiro, quando o Sr. Rupprecht Loeffler faleceu, aos 93 anos. Este texto é uma homenagem a este senhor e seu amor pela cerveja artesanal.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Breves Notas

Guerras, revoltas, catástrofes e outros fatos assombrosos no cenário mundial são uma excelente oportunidade para aprimorarmos nossos conhecimentos de geografia. A um custo muito elevado, descobrimos onde ficam cidades como Basra, Islamabad, Jalalabad e Grozni.
Mas desta vez a questão líbia não me pegou de surpresa: um dos palcos da revolta, a cidade litorânea de Benghazi, fora um centro logístico muito importante do Deutsches Afrikakorps. Quem se interessa pelo assunto e procura ler bastante sobre a Segunda Guerra Mundial deveria saber.
Quanto à provável deposição do ditador Kadafi, penso que está acontecendo com 40 anos de atraso.
Quanto ao futuro da Líbia... bem, aí nem o Tiririca pode afirmar que não ficará pior...

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Nunca li nenhum livro do Scliar, cuja morte me obrigou a editar o texto que escrevi sobre a insignificância e inexistência de razão de existir de seu time, e confesso que também não está entre minha prioridades literárias. Mas li vários artigos em jornais e revistas, e gostava bastante do modo como escrevia.


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 Ontem, o goleiro do Caxias defendeu 4 pênaltis dos 5 batidos. A série acabou em 2x1, algo raro nesse tipo de desempate. Já tinha visto algo assim, nas oitavas-de-final da Libertadores de 1997, quando após perder em Asunción por 2x1 para o Guarani, o Grêmio fez 1x0 no jogo de volta no final do jogo, permitiu o empate nos descontos, e ainda conseguiu desempatar. Nos pênaltis, um festivas de erros e a vitória Gremista por 2x1. Os paraguaios conseguiram acertar apenas 1 pênalti dos 5 cobrados. Foi o jogo mais emocionante que eu vi ao vivo.

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No domingo, os dois times desnecessários do Gauchão, São José e Cruzeiro, foram eliminados da Taça Piratini. O futebol agradece.


quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Cruzeiro, São José e outros times desnecessários.

Eram pouco mais de 20 pessoas, além de outros tantos que iriam de carro. Reuniram-se no tradicional ponto de encontro e de lá o ônibus partiu com 30 minutos de atraso (culpa do Cônsul). Hora e meia percorrendo 110 km de estrada separavam estes torcedores de um simples jogo de futebol. Pouco importava se naquela quarta-feira eles não dormiriam antes das 2 da manhã. Para a imensa maioria seria a única oportunidade em 2, talvez 3 anos que teriam para ver de perto o time do coração. E isso não somente para meus conterrâneos, pois vi pessoas de cidades ainda mais distantes que viajaram para verem este jogo.

É claro que para um porto-alegrense pode ser difícil de entender esse tipo de emoção. Afinal, além de morar perto do estádio de seu time, pode acompanhá-lo nos jogos contra as várias equipes da capital e cercanias. As partidas contra Cruzeiro, São José, Porto Alegre estão a um, no máximo dois vales-transporte de distância. Com um bilhete integração do Trensurb dá pra colocar a Ulbra nesse bolo (ou sei lá qual é o nome que esse time utiliza atualmente).

Não se discute a bizarrice de times como Porto Alegre e Ulbra, mas temos que convir que além do fato da localização destes facilitar em muito a logística tanto Federação (analisando a parte administrativa, arbitragem, cobertura da imprensa, etc.), quanto da própria dupla Grenal, agradam em cheio aos torcedores da capital. Aqueles cerrolarguenses podem esperar até 2013 para verem seu time jogar novamente em Ijuí,  isso se o São Luiz não for rebaixado até lá, é claro.

É principalmente por tal motivo que eu repudio estes dois clubes, aliás, tão desnecessários para o futebol gaúcho quanto eles são os outros dois nanicos da capital: o São José e o Cruzeiro. Para a imensa maioria dos gaúchos, esses times não têm importância nenhuma e ninguém sentiria falta se amanhã eles fechassem as portas.

Ouço pessoas gritando: "mas são times tradicionais"! Tradicionais o quê? Que tradição tem o São José? É um clube social para se jogar bocha e fazer churrasco em seus quiosques. Se não fosse pela mão daquele astuto vendedor de CDs não-piratas já teria fechado seu departamento de futebol há muito tempo, sem deixar saudades. Vocês conhecem algum torcedor do São José?



Recorde de público no estádio Passo d'Areia.

E o Cruzeiro? "Foi campeão Gaúcho em 29, pô!, tem tradição sim senhor, tem história!" Sim, mas o Americano foi campeão em 28 e o Renner em 54. Não existem mais e hoje ninguém lamenta o sumiço deles. Tradição? História? A Prússia tinha tudo isso e cadê? O próprio Cruzeiro ficou mais de 20 anos sumido e ninguém sentia falta dele. Dizem que o clube tem 18 torcedores, mas citem um, SOMENTE UM torcedor além do Scliar. O São José nem ao menos um torcedor tem.
(editado em 28/12/2011 - três dias depois da publicação deste texto, o único torcedor do Cruzeiro faleceu. Agora as torcidas dos dois times desnecessário têm o mesmo tamanho.)

Mas eles estão aí, inclusive nas semi-finais da Taça Piratini, para a alegria da federação e dos empresários que bancam seus jogadores, podendo acompanhá-los de perto sem abrir mão de bons restaurantes e dos shopping centers, apesar de deixar órfãos de futebol praticamente a totalidade do interior, que apenas esporadicamente pode acompanhar de perto um jogo.

Imaginem se no lugar do Cruzeiro estivesse o São Paulo? O time tem feitos belas campanhas na Segundona, tem uma grande torcida e um belo estádio. O rival Rio Grande não iria querer ficar pra trás e certamente faria o possível para também subir. Talvez até o Riograndense saísse do ostracismo.

Que tal trocar o São José por algum time de Bagé ou de Livramento? Qual seria a alegria do sofrido pessoal da fronteira... Nem Obirici derramaria suas lágrimas pela ausência do Zequinha.

Nas vagas hoje ocupadas por Porto Alegre e Canoas, times que não levam ninguém aos estádios (bem que a média de público do mandante poderia ser critério para definir os rebaixados), como seria bom ver equipes da região das Missões, do Alto Uruguai ou do Planalto Central. Não teve um candidato a governador que prometeu que nenhum gaúcho andaria mais de 1 km para ir até um posto de saúde? Que ninguém percorra mais de 25 léguas para ver um jogo do Gauchão.

Continuando assim, o que ainda falta acontecer para termos um legítimo Campeonato Metropolitano? O Cerâmica ser promovido? Reativarem o Força e Luz?

Recolha-se novamente à sua insignificância, São José! Desapareça Cruzeiro, desta vez para sempre! Fora com todos esses times insignificantes, prescindíveis e desnecessários que privam os torcedores do interior do Gauchão!


sábado, 19 de fevereiro de 2011

Mestre Seagal

Isso já faz muito tempo, mas houve uma época em que uma das diversões  preferidas dos adolescentes era alugar um filme (uma fita VHS, é óbvio) para assistir com os amigos. Com a minha turma não era diferente, fizemos isso inúmeras vezes. Lembrem-se de que naquela época não existia Playstation, jogo em rede, nem rede existia direito.

A locadora era ponto de encontro, e de divergências também. Afinal, enquanto que meus amigos queriam locar aquelas comédias idiotas, tipo "O Paizão" e "Vida de Solteiro" (é ou não é Felipe? Por acaso minto, Klé?), o Germano aqui já preferia algo mais profundo, como os filmes do Steven Seagal.

Confesso que não lembro de nenhum, NENHUM nome de filme que esse cara fez (não tinha um com algo a ver com "Nico"?). Mas assumo: eu gostava sim e assisti muitos. Os enredos eram sempre os mesmo, tão complexos como as regras do par-ou-ímpar: um cara fortão enfrentava um bando de marginais, vencendo-os um-por-um, sempre com muita porrada e braços quebrados. Nem lembro se tinha mocinha no filme.

O engraçado é que eu nunca pratiquei nenhum tipo de arte marcial e o mais perto que eu cheguei de uma briga de rua foi no SNES. Tanto é que tirando algum filme do Van Damme que eu acho zapeando, nunca  paro para assistir nenhum tipo de luta.

É por isso que eu só fiquei sabendo do tal de UFC 126 alguns dias depois da luta ter terminado. Não vou explicar com detalhes, mas era o Vitor Belfort, símbolo do carioca-brigador-cara-de-mau-bad-boy-jiu-jitsu-orelha-amassada, contra um tal de Anderson Silva, que eu nem sabia que existia. Resumindo a peleja, depois de uns três minutos em que os lutadores ficaram só se encarando, uns golpes de cada lado e de repente...

Anderson Silva "gruda-lhe um coice na fuça" do Belfort, derrubando o marrento e acabando com a luta. Procurem no YouTube, é divertido de ver. Claro que a luta não foi  tão agitada como se vê nos filme, mas justamente por não se tratar de um filme.

Mas tão legal quando a luta foi descobrir este outro vídeo:



É ele mesmo, o próprio Steven Seagal dando umas dicas pro Anderson Silva. Confesso que fiquei emocionado ao ver esta cena. Não emocionado no sentido lacrimejante da coisa, mas sim no sentido de 'pô, que legal'. Impossível não recordar as imagens do Senhor Miyagi colocando Daniel San para pintar a cerca  e polir automóveis, e de Obi-Wan Kenobi transmitindo os ensinamentos jedi para  Luke Skywalker: mestre ensinando parte de seu conhecimento a um pupilo, cena clássica em Hollywood mas sempre atual.

Parece que Anderson Silva aprendeu direitinho. Claro que eu preferiria que ele tivesse feito aquele famoso golpe quebrador de braços que seu professor tanto praticou em frente às câmeras. Aliás, ele próprio estava lá, inclusive entrou na arena junto com o aluno, usando um muito estranho óculos amarelo. Deve ter gostado do que viu, assim como eu gostei.

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Chamou-me a atenção o fato de que no calção do Belfort podia-se ler a palavra Jesus, que também aparecia no banner com seus patrocínios.

Posso estar desinformado, mas nunca ouvi falar que Ele utilize tais médotos de evangelização. É muito mais provável que se trate de mais uma manifestação desse neo-pentecostalismo caricato que está  se impregnando pelo Brasil. Coisa bem idiota, se alguém quer fazer "propaganda" pra Jesus, que o faça sendo um exemplo de vida cristã.
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