terça-feira, 27 de maio de 2008

O mais odiado

Quando o Grêmio voltou à elite do futebol brasileiro, depois do épico embate de 26 de novembro de 2005, no Recife, começaram a aparecer inúmeros vídeos na internet enaltecendo este feito. Em muitos deles aparecia a seguinte frase: "O mais odiado voltou!"


Apesar de gremista, não concordo com este apelido. Um time como o Grêmio, que tem como característica uma história recheada de vitórias difícieis, na base da superação e da raça, mesmo diante de adversário tecnicamente superiores, pode sucitar temor, inveja e até respeito. Mas ódio? Não, não acredito que o Grêmio seja tão odiado assim.

Aliás, para um time ser odiado, talvez até nem seus títulos sejam tão importantes. São necessário inúmeros fatores, mas penso que a visibilidade dada pela mídia é preponderante. Vejam o exemplo dos dois times que disputam o título de "mais odiado" dentre os clubes brasileiro, Corinthians e Flamengo.

Os dois têm as maiores torcidas do Brasil e representam as cidades mais importantes em termos econômicos e de mídia, respectivamente, tendo assim muito mais visibilidade do que os outros times. Dificilmente um noticiário esportivo não vincula alguma notícia desses clubes, por mais insignificante que seja, preterindo outros assuntos muito mais relevantes. Aliado a isso, os dois são acusados de serem beneficiados por decisões equivocadas da arbitragem.

Em termos de títulos, o Corinthians tem aquele torneio de verão de 2000, que trouxe os jogadores do Real Madrid e do Manchester United pra conhecerem nossas praias, e que até hoje ninguém sabe qual foi o critério de escolha das equipes participantes, mas que a Fifa e alguns corintianos ortodoxos insistem em chamar de Mundial. E alguns títulos nacionais. Além das fronteiras do país, somente alguns conhecedores do assunto sabem que time é esse.

Já o Flamengo já tem um pouco mais de fama no exterior, um tanto pela conquista do Mundial de 1981 (acho bom nem comentar aqui o que disse o goleiro do Liverpool, advesário da época) e muito mais pela consagrada associação Brasil-carnaval-futebol-flamengo-mulher pelada-floresta amazônica-turismo sexual que habita a mente da maioria dos turistas que vem para cá.

Em relação aos seus outros títulos importantantes, na grande maioria deles há tristes histórias de adversários inconsoláveis perantes erros grotescos de arbitragem. Na Libertadores de 81 (derrotou o famoso Cobreloa - duvido que 5 habitantes da minha Cerro Largo saibam a cor do uniforme do time chileno), os atleticanos lamentam até hoje. Dos 5 títulos nacionais vencidos pelo Flamengo, os de 1980, 1982 e 1983 são contestados pelos adversários sempre pelo mesmo motivo. Pode-se dizer que houve méritos somente nos dois últimos, onde o time foi notalvelmente superior, principalmente em 1987, ainda mais por ter enfrentado um adversário extremamente frágil. Mas igual, esse título nem valeu nada mesmo, pois o verdadeiro campeão daquele ano é o Sport.

Se existem clubes odiados no Brasil, Flamengo e Corinthians serão sempre os primeiros citados, pois inspiram o ódio de todas as outras torcidas.

Eu, pessoalmente, não gosto de nenhum dos dois. Fiquei extremamente feliz ao ver o Corinthians rebaixado e torço para que o time da Gávea tenha o mesmo destino.


Mas confesso que passei a cultivar uma certa simpatia (bastante enrustida, é verdade) pelo time do Parque São Jorge depois de ter acompanhado alguns jogos delo no ano passado. Foram dois, um contra o Náutico, pela Copa do Brasil, e o outro contra o Vasco, pela penúltima rodada do Brasileirão. Em ambos o time paulista perdeu, e foi muito divertido, assitindo a duas derrotas importantes, uma eliminando-os da Copa do Brasil e a outra encaminhando seu rebaixamento no Brasileiro, em meio a própria torcida corintiana. Mas confesso que tive um pouco de pena ao ver a tristeza daquela torcida tão apaixonada.

Já estava quase que decidido a torcer pelo Corinthians nesta noite, contra o Botafogo, jogo este pela semi-final da Copa do Brasil e que assistirei in loco, quando me lembrei do meu pai.

Seu Téo acompanhou a Copa de 1958 pelo rádio, quando estava no juvenato dos Irmãos Maristas, em Joaçaba. Aprendeu a admirar as estrelas daquele time. Apesar de Gremista, tem uma forte simpatia e admiração pelo Botafogo e pelo Santos por seus jogadores. Puxa vida, não posso desapontar o meu pai, logo o meu pai.

Hoje à noite, em pleno Morumbi, estarei em meio a milhares e milhares de corintianos. Tentarei dissimular ao máximo, mas minha torcida será toda pelo Botafogo. Não tanto por odiar o Corinthians, mas pelo meu pai.

Mas torcerei calado. Não sou bobo...

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