sábado, 13 de setembro de 2008

Cavalos de Bronze

Rivera, Lavalleja, Zabala, Aparicio Saravia e, é óbvio José Artigas. Estão todos lá, firmes, impávidos, altivos, irredutíveis e... oxidando, nas praças de Montevideo. Eles e seus cavalos.

Estátuas eqüestres são presença constante em países cuja história foi escrita sobre o lombo dos cavalos, com suas fronteiras demarcadas com os cascos destes, como é o caso dos hispano-americanos. Não é de se estranhar que figuras eqüinas sempre apareçam nos monumentos aos grandes heróis nacionais. Em eventos marcantes da história destes países, como lutas pela independência e outros conflitos bélicos, o cavalo sempre esteve presente e desempenhou papel crucial.

Bastante comum nos países vizinhos, este tipo de escultura é bastante raro no Brasil. Lembro-me de apenas quatro: as estátuas de Bento Golçalves e do General Osório, em Porto Alegre, a do Duque de Caxias em São Paulo e a do Beto Carreiro em frente ao parque homônimo. Na capital paulista, às margens plácidas do riacho Ipiranga, há um belo alto-relevo eqüestre, mas não uma estátua. Talvez os meus três leitores possam me ajudar citando outras.

Já nos países lindeiros elas aparecem inclusive em cidades de menor porte, como Paysandu, no Uruguai, e Posadas, na Argentina. E foi nesta, capital da província de Misiones, que tive uma grata surpresa nesta semana: assisti a um encontro de grupo de danças de diversos países. Não que eu goste de danças, muito pelo contrário, acho algo muito sem graça. Mas pouco dispendi da minha atenção com as mesmas, o que me interessou mesmo foi o clima cosmopolita, com hondurenhos, costariquenhos, paraguaios, bolivianos, mexicanos e muitos outros numa mesma praça, aos pés da estátua do General Libertador San Martin. Dele e de seu cavalo.

Era uma visão inusitada, numa pequena área, pessoas de diversas nacionalidades, com feições distintas e indumentárias das mais variadas, como um menino boliviano com inúmeras sinetas pendurados em sua calça. Coitado, seu andar era todo desengonçado. Judiaria fazer isso com uma criança, somente um povo que elege um Evo Morales da vida faria algo do tipo.
Com certeza, o palco das apresentações contribuiu para a beleza da cena. Se o evento tivesse sido realizado em algum outro lugar, como um teatro, um parque de eventos ou um lonão, talvez não tivesse me causado a mesma impressão. Aliás, eu nem me prestaria a ir ver. Mas nesta praça, tudo ficou mais belo. Acredito que San Martin e seu cavalo influenciaram positivamente para que eu saisse de lá tão satisfeito.

Essa é a função da arte, não apenas instigar a nossa imaginação e chamar atenção, mas nos trazer o belo, o agradável, o prazer.

Mas algo me inquieta sempre que me deparo com este tipo de escultura: o bronze das estátuas costuma ser fiel às feições dos heróis retratados. Mas será que esta fidelidade abrange também os heróis eqüínos? Será que houve algum cuidado em relação ao focinho, à crina, ao porte do cavalo em questão? E o nome deles? Se todos sabem que o cavalo do Zorro se chamava Silver, o do Alexandre, o Grande era o Bucéfalo e o do Pica-pau era Pé-de-Pano, por que o nome do cavalo do San Martin não consta em nenhum de seus monumentos?

E tem algo que eu considero ainda pior, o bronze nos omite uma informação de extrema importância a respeito de um cavalo: o seu pêlo. O companheiro de Artigas era um zaino ou um tordilho? Um alazão, ou um gateado?

A arte nunca deixará de ser polêmica

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