Sabe aquele cara que entende tudo de vinhos, e faz questão de demonstrar a todos seu conhecimento a respeito de taninos, aromas, corpo, varietais, terroir, safras e harmonizações gastronômicas? É o tal do "enochato". Evite amizades com este tipo de pessoa, ou corte logo seus comentários inoportunos.
Infelizmente tem surgirdo uma nova classe de desagradáveis sabichões: a popularização da cultura cervejeira está fazendo com que os primeiros "cervochatos" dêem as caras e os palpites. Com profundos conhecimentos de maceração, leveduras, aromas, marcas e maltes, eles chegaram para infernizar o universo do homebreewing. Mas o conselho é a mesmo: evite-os ou reprima-os. Sempre que alguém utilizar a expressão "diacetil" por três vezes ou mais no mesmo texto ou diálogo, torça o nariz e procure uma parede para se esconder.
Certa feita, um conceituado cervejeiro artesanal publicou um relato de sua visita a um bar em Buenos Aires que serve cervejas artesanais. As orelhas dos proprietários devem estar vermelhas até hoje.
Confesso que, certas vezes, tenho medo de ser um "cervochato", principalmente quando converso com pessoas que só conhecem as pale lagers padrão Brahma. É muito chato passar por chato. Dias atrás, num churrasco entre amigos, um conhecido perguntou se eu já tinha tomado a Stella Artois (com o sotaque brasileiro).O que eu poderia dizer? Que sim, que conhecia esta cerveja lager da Bélgica, umas das poucas cervejas belgas deste estilo conhecidas justamente em um país famoso pela diversidade e criatividade de sua escola cervejeira, carro chefe da mostruosamente gigante InBev-Budweiser, produzida desde 1926, apesar do rótulo conter a data 1366, em alusão ao começo da atividade cervejeira na cidade de Leuven, berço da marca, que é uma cerveja com pouco corpo e que...
Não, eu não poderia fazer isso. Minha reputação poderia ser seriamente manchada. Optei por simplesmente responder: "sim, já tomei na Argentina". Ele completou dizendo que gosta muito que traz ela "do outro lado", mas que considera um "trago caro". Novamente primei pelo silêncio, lembrando-me das Unibroue da minha adega.
Bem, neste momento em que o pessoal da Acerva Gaúcha faz o seu evento aberto em Porto Alegre (o único evento digno de nota naquela cidade neste dia), vou pegar minha Stella Artois que deixei na geladeira e para marcar meu sábado de meio-dia.
E para o desespero dos puristas e, principalmente, dos cervochatos, é uma lata.
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