segunda-feira, 9 de março de 2009

High Fidelity é o K7

Nossa família sempre teve uma relação ambígua com as novas tecnologia: em alguns casos éramos precursores, em outros estávamos muito defasados.

Exemplos? Quem é que tinha um projetor de Super-8? Aqui em Cerro Largo sei de três apenas. No início da década de 80 éramos dos únicos a ter um “cinema em casa”. E quanto mais eu via mais eu gostava daqueles filminhos de pouco mais de sete minutos, em sua grande maioria desenhos animados: tínhamos do Pato Donald nos Andes, Branca de Neve, do Robin Hood. Que eu me lembro, o único que não era de animação era o “Se meu Fusca falasse”, sucesso entre os Jaeschke-Schneider. E se havia poucos projetores de Super-8, imaginem filmadoras neste formato? Papai tinha uma… Precisávamos ir até Santo Ângelo, deixar lá o rolo, e buscar o filme revelado alguns dias depois. Mas graças a ela que hoje temos o registro da nossa família em 1985.

Em contrapartida, o nosso primeiro aparelho de DVD foi adquirido há uns 4 anos, quando todo mundo já tinha o seu.

E o som: o pai tinha (e tem ainda) um toca-discos bem antigo, da Philips, provavelmente da década de 70. E dois toca-fitas: um também da Philips, com um microfone, e outro com rádio, da CCE, ambos “mono-deck”. Mas nunca tivemos o famoso “3 em 1”, com toca-discos, toca-fitas e rádio em um mesmo aparelho, que também todo mundo tinha. E eu nem conseguia ligar nossa “vitrola” nos toca-fitas pois era um outro padrão de plug. Ou seja, não tinha como gravar um disco em uma fita ou duplicá-las. Tanto que minha primeira fita de “Rock n’ Roll” (“O Papa é pop”, dos Engenheiros do Hawaii) foi gravada de modo mais viking possível: peguei nossos dois toca-fitas, coloquei a original no CCE e deixei o microfone do Philips ao lado dos auto-falante do primeiro. Ficou uma “maravilha”, mas escutei muito “Era uma garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones” nela.



Um dos problemas da idade, ao menos no meu caso, é que a gente vai ficando mais exigente, ou até mais enjoado, quando não os dois juntos. Uma das coisas mais legais que eu instalei no meu consultório (de onde escrevo agora), foi umas caixinhas de som que comprei na Santa Efigênia, em São Paulo. O som fica ótimo, uma qualidade incrível, e bem distribuído pela sala. E além de poder finalmente escutar os gigas e gigas de música que a internet nos disponibiliza, consegui me ver livre das rádios. Ligo o Winamp e esqueço…

E aí está o problema em estar mal acostumado. Domingo passado, consegui queimar o meu som. Não vou explicar como, pois neste blog até posso me expor ao ridículo, mas tudo tem seus limites. O que importa que queimei e pronto.

E agora, como iria trabalhar sem música? Putz, desde a época da faculdade, quando levava um radinho, passando por meu período em postos de saúde, com o o velho radinho sempre junto, juro que imaginei não ser possível trabalhar sem um fundo musical. Cheguei a pensar em pedir para a Franciele desmarcar os pacientes daquele dia. Mas não, levantei a cabeça e enfrentei a adversidade, sem cogitar a hipótese de ter que apelar para alguma rádio. Onde fica o meu orgulho?

Em alguns momentos, usei o som do notebook, pois precisava extrair alguns dentes de um paciente que estava muito nervoso, e caso alguém não saiba, música em ambiente odontológico não é só para agradar o profissional (o que já seria um motivo mais do que suficiente por si só), mas também para diminuir a tensão que invariavelmente o paciente acumula na cadeira do dentista. E como sabia que este gosta de música clássica (inclusive é pianista nas horas vagas), não arisquei: Nona Sinfonia de Beethoven.

Mas acredito que contribuí para aumentar o já visível nervosismo do meu paciente, pois a qualidade do som que esse tipo de autofalante produz é horrível. Pelo amor de Deus, ainda mais numa música trabalhada e cheia de arranjos com esta em questão. Foi quando me dei por conta: como poderia eu estar sendo tão exigente sendo que o meu início no mundo da música foi o pior possível em termos de qualidade sonora? Passei anos escutando fitas K7 pessimamente gravadas, com músicas pela metade, algumas vezes tendo que esperar horas com o rádio ligado e o toca-fita no REC+PAUSE, esperando a música desejando, que invariavelmente ficava registrada com a voz do locutor nos segundos finas… Puxa vida, eu passava por isso e muito mais e era feliz. Como posso ter me tornado assim chato?

Mas, graças a Deus, o som ficou pronto na quarta…

Foto: Vagalume

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