Difícil misericórdia tão grande quanto a da morte. Inúmeros são os casos de personagens que tiveram seus feitos superestimados após o fim de suas vidas. Bem verdade que é feio falar dos mortos, mas convenhamos, tem horas que esses exageros enchem a paciência. Alguns exemplos:
Mamonas Assassinas: banda divertida, que gravou um cd com letras engraçadas e que lhes deu projeção nacional e espaço nos pavorosos programas dominicais da tv. Até que um acidente aéreo pôs fim a tudo.
Com a morte de seus integrantes, a banda ganhou muito mais exposição na mídia, as vendas de seu disco cresceram de modo exponencial, e suas músicas adquiriam um status até meio cult.
Caso o jatinho com que eles viajavam tivesse pousado normalmente naquele dia, a banda continuaria sua trajetória, lançaria um novo disco, desta vez feito com muito mais cuidado e profissionalismo (no jargão musical, muito mais “trabalhado”), emplacariam dois ou três hits, e acabariam sofrendo o desgaste natural que este estilo música-piada comumente tem. Seu terceiro disco seria um fracasso, o que ocasionaria o fim da banda. Seus integrantes partiriam para projetos individuais.
Airton Senna: grande piloto, um dos maiores da história, apesar de apenas ter sido campeão enquanto dispunha do melhor carro. Sua morte o colocou na condição de deus encarnado, supervalorizando de modo exageradamente excessivo (pleonasmo é pouco numa hora dessas) todas suas qualidades, e fazendo com que aspectos como sua falta de ética e de caráter e sua homossexualidade passassem despercebidos. Virou herói nacional, junto com Tiradentes e Pelé (?). Na minha Cerro Largo não existe uma rua chamada Machado de Assis e nem Paul Harris, mas Airton Senna é digno de tamanha distinção.
Caso sobrevivesse, marcaria seus primeiros pontos no campeonato de 1994 em Ímola, mas teria novamente o desprazer de ver Schumacher no alto do pódio. Só pra relembrar, nas três corridas que disputaram naquele ano, o alemão fez 30 pontos com sua Benetton-Ford, enquanto que Senna, com a super Williams-Renault marcou ZERO pontos. Terninaria o ano com um digno vice-campeonato, o que se repetiria em 95, pois não seria capaz de superar o alemão que também passaria a contar com os motores franceses. Reencontraria a glória em 96 e 97, pois a ida de Schummi para a Ferrari abriria o caminho para o penta-campeonato do brasileiro, que não teria adversários. Mas com a ascensão da McLaren, aliada à decadência da Williams, Senna passaria dois anos em branco. Faria de tudo para retornar à sua antiga equipe, algo que conseguiria, mas a sua volta coincidiria com o começo do reinado da dupla Schumacher-Ferrari. Depois de mais dois anos de maus resultados, passaria a fazer lobby para correr pela escuderia italiana. Sem sucesso, decidiria se retirar da categoria, vendo de fora a quebra de todos os récordes pelo alemão.
Entraria para a história, de qualquer forma, mas muito longe das 400 vitórias e dos 20 títulos mundiais que as pessoas afirmam que ele conquistaria.
"Putis grila, o alemão já escapou de novo..."
João Goulart: após ser eleito por duas vezes consecutivas vice-presidente da república, Jango ganhou de bandeja o cargo de chefe da nação, atuando de modo modesto, até por que não dizer sem preparo para tanto. Foi “convidado” ao deixar o país e acabou morrendo no Uruguai. Durante anos comendo apenas do bom e do melhor, sem mediar quantidades, um enfarte acabou com sua pouco expressiva vida pública.
Se tivesse sido mais comedido em sua dieta, poderia ser eleito governador após a anistia. Acabaria a vida na câmara dos deputados, tendo como grande e único “palanque” a revolução de 64, ou em alguma função pública. Ou seja, mamaria nas tetas do governo à exaustão.
Nada diferente do que é hoje o Itamar Franco.
Salvador Allende: se não tivesse se matado, teria um destino muito semelhante ao de Jango. Caso não tivesse acontecido o golpe militar, dificilmente conseguiria tirar o Chile da crise econômica da qual se encontrava, o que o impediria de eleger um sucessor da situação. Tal qual Jango, seria um pouco destacado parlamentar.
James Dean: ator mediano, com fama de galã. Sua morte livrou-o de ter que demonstrar sua falta de talento em outros filmes. Provável que, assim como Marlon Brando, morresse gordo e pobre.
Falar em inexpressiva carreira política de Jango é um pouco desconhecer a história recente brasileira.
ResponderExcluirJango iniciou sua carreira política na constituinte de 1946 elegendo-se deputado estadual.Em 1950 elege-se deputado federal e assuma a pasta de secretario do interior e justiça do Rs, é levado em 52 ao Miniserio do Trabalho do Presidente Vargas sendo o mais novo ministro da Nação, assume a presidência do PTB estadual, assume depois de sua saída do ministério a presidência nacional do mesmo PTB,(nunca mudou de partido)por duas vezes se elege em voto direto vice-=presidente da República, sendo que em uma delas faz mais votos que o própio presidente Juscelino, na segunda ganha do vice de Janio, nas duas preside o Congresso nacional como presidente do poder legislativo da República. Assume a presidência pois tinha a legitimidade do voto, não como Itamar que não tinha votos a não ser o da chapa.Ganha o plebiscito do retorno do presidencialismo com mais de 80%dos votos, luta pelas reformas de base e se torna o único presidente a não voltar ao seu país. E tú meu caro amigo acha pouco essa carreira política?
João Vicente Goulart.
A unção das urnas, vide nossa assembléia e nosso congresso, não é garantia de competência ou de expressão..
ResponderExcluirInfelizmente.