segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Um Monumento à Opinião

Quem já visitou Montevideo a passeio certamente viu uma das tantas obras do escultor José Belloni, artista que tão bem soube retratar seu país usando o bronze, tanto que alguns de seus trabalhos tornaram-se símbolos da capital uruguaia. O meu preferido chama-se El Entrevero, e retrata uma escaramuça de gauchos (sem acento no original em espanhol), cena corriqueira no forjar do país.

El Entrevero

Monumentos em homenagem a personagens históricos, eventos importantes ou fatos dignos de lembrança são presença constante em praças, parques e avenidas mundo afora. E é por isso que  (parafraseando os ministros do Supremo) causou-me espécie a reação negativa à instalação de um deles na praça de Cerro Largo. Presente da Sicredi, o monumento é (ou poderia ter sido?) uma homenagem ao centenário do cooperativismo na região noroeste do estado, e é semelhante ao que existe em Nova Petrópolis.

A principal crítica que li é devido à utilização de um espaço público (a praça) por uma empresa privada (Sicredi), algo que legalmente não poderia acontecer. Aqui já percebemos uma triste contaminação ideológica, tão fortemente incutida e que brota naturalmente, onde tratados como valores absolutos o público remete ao bem e o privado ao mal. Mas felizmente não é assim tão simples. No caso em questão, parece-me que a cooperativa pretende construir um monumento em local cedido pelo legislativo municipal (que numa democracia representativa tem a incumbência de tomar este tipo de decisão em nome da população que o elegeu) e a área não será de uso restrito da empresa mas permanecerá aberta e acessível como toda a praça. Nenhum espanto, nenhuma novidade: é absolutamente corriqueiro empresas, entidades, associações, etnias ou até países estrangeiros presentearem uma comunidade com algum monumento. E é algo muito salutar que as iniciativas não sejam exclusividade dos poderes públicos.

Na mesma praça há outros exemplos de monumentos construídos pela iniciativa privada, cuja existência em local público não foi contestada até então: os clubes de serviço Rotary e Lions possuem cada um o seu, ocupando o espaço que poderia ser de uma pessoa sentada tomando mate. O busto do padre Max foi erguido pelo Centro Cultural 25 de julho, outra entidade privada. Aliás, eu sinceramente não sei como ninguém até agora protestou contra o chafariz localizado no centro da praça, ornamentado com a figura de Netuno, o deus romano do mar, o que configura um flagrante atentado ao princípio da laicidade do Estado.

Outra queixa que li se refere a perda de uma área utilizada pela população para sentar e tomar mate. Mas nossa praça tem um tamanho que comporta uma população muito maior do temos atualmente. Não falta lugar e nem vai faltar, a área ocupada pela base do monumento é insignificante em relação ao tamanho da praça. Todos poderão continuar levando suas cadeiras dobráveis e suas térmicas que ainda encontrarão seu espaço. Também falou-se da perda de uma área verde, mas todas as praças possuem elementos de paisagismo junto à vegetação: as vias de circulação, bancos, iluminação, monumentos... é necessário que haja uma harmonia, uma sinergia entre o conjunto e que nenhum elemento se sobressaia em excesso. A beleza de uma praça está justamente no paisagismo, caso contrário torna-se uma reserva de mata que nem nativa é ou mesmo um potreiro. O concreto, com toda a sua brutalidade, pode ser uns instrumento para se atingir o belo. Outros reclamaram que o monumento prejudicaria a visão, tanto de quem está na praça e quer ver o movimento da rua, quanto de quem está passando pela rua e quer ver a praça. Mas neste caso é preciso levar em conta a harmonia que eu citei, pois um monumento deve-se somar ao conjunto, e tendo isto em vista o local escolhido é justamente o melhor por se tratar da porção mais baixa do terreno, com menor prejuízo à visão geral da área. Mas estranho que ninguém fale do banner que há na esquina oposta, que literalmente encobre uma parte da praça muito mais concorrida, e mesmo o palanque, certamente o elemento que mais oblitera a visão que temos da praça, será que seria o caso de destruí-lo?

Acho que faltou esclarecimento, e de ambas as partes. Em primeiro lugar trata-se de um presente para a cidade. Em segundo, a homenagem não é para a empresa em si, mas sim para uma filosofia, um modo de relacionamento econômico que permitiu o desenvolvimento da região em diversas atividades, adotado por muitos outros além do Sicredi. Por fim, não é nada que nunca fora feito antes, seja aqui, seja em qualquer outra cidade.

Claro que todos têm o direito de se manifestar, de expressar sua opinião, mas confesso que fiquei surpreso que além de uma tímida nota do Sicredi nos jornais locais, não vi mais ninguém manifestando-se favoravelmente. E não é por falta de argumentos.

Eu não ganho nada para defender a cooperativa e até nem mesmo sou sócio dela. Sinceramente, eu até preferiria que o local fosse utilizado para montagem do presépio, como sempre vinha ocorrendo em todos os Natais. Mas minha opinião é baseada em argumentos e naquilo que eu encaro como sendo correto e sensato, e não na insatisfação de muitos. Não vejo motivos para tamanho sentimento iconoclasta e tenho certeza que nossa praça vai ficar muito mais bonita.
Monumento ao cooperativismo, em Nova Petrópolis

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Aventuras Gastronômicas em Salvador IV - a batalha do sarapatel

Tenho uma curiosidade gastronômica ímpar: apesar de procurar manter uma alimentação regrada, não perco a oportunidade de provar algum prato que até então não conhecia. E as viagens são oportunidades incríveis para satisfazer a minha fome pelo diferente.

Em nossa última noite em Salvador visitamos uma pequena feira de São João, perto do Farol da Barra: diversas barraquinhas ofereciam artesanato e pratos típicos, como tapioca, bolo de milho e quentão, algumas mesas para o pessoal sentar e comer, e um espaço para se dançar o forró que um trio de esforçados músicos tocava. Uma noite agradável para finalizar nossa lua de mel: conversar, comer, ver os outros também se divertindo, essas coisas bacanas de se fazer quando se está de férias.




 Após alguns minutos, meu olhar atento mirou uma barraquinha ao fundo, onde num cartaz escrito à mão lia-se SARAPATEL. Um nome forte, sugestivo, mais do que suficiente para atiçar minha curiosidade. Vou até lá e pergunto para senhora que estava atendendo o que era esse tal de sarapatel. Ela nada respondeu, creio mais por estar entretida com outros afazeres do que por antipatia, mas de pronto levantou a tampa de uma enorme panela sobre o fogo. Vi um caldo escuro e espesso, borbulhando lentamente. Tão logo a panela foi aberta, uma enorme bolha do ensopado estourou, e fui fuzilado pelo odor nauseante de morcilha velha.

Foi horrível. Não me recordo, mas acho que retrocedi um ou dois passos. Agradeci sorrindo e voltei para nossa mesa, moralmente zonzo.

Inebriado por aquele odor a martelar meu olfato, fiquei pensativo. Comi uma tapioca, provei o quentão, mas o tal do sarapatel não saia da minha cabeça, e muito menos das minhas narinas. Minha esposa percebeu minha inquietação, pois com frequência eu voltava os olhos para a barraquinha. Será que minha curiosidade gastronômica não seria saciada e retornaria ao sul sem provar o dito cujo? Será que eu seria derrotado por um aquele prato?

Imagina a festa!

O forró  já não me animava mais e sentia que com essa minha atitude covarde eu corria o risco de estragar nossa noite. Não, de modo algum eu seria mais fraco que um ensopado qualquer, nosso último dia de férias não seria arruinado por causa de um cozido fétido. Assim como Rocky Balboa, encontrei forças para me levantar e ir ao encontro do "adversário" que me nocauteara. "Vou querer um sarapatel", disse à senhora, que talvez percebendo estar diante não de um trivial ato de alimentação mas sim de um quase Armagedon, literalmente adicionou mais uma dose de emoção ao embate: "vou servir duas porções pelo preço de uma".

Recebi um prato de plástico cheio de um ensopado denso, talvez o suficiente para ser usado como lastro em uma caravela. Claro que o odor permanecia o mesmo, não iria melhorar e muito menos teria o que piorar, mas minha disposição fez com que conseguisse suportá-lo. Voltei à nossa mesa, sob o olhar de espanto de minha esposa: "tudo isso?", ela reclamou. Mas acho que estava com pena de mim, talvez sabendo que o pior estava por vir.

Agora já não havia como retroceder: era sarapatel x Germano, e só haveria um vencedor.

Na primeira colherada constatei que o sabor era condizente com o aroma, com um forte realce da gordura. Um golpe pesado, mas suportável numa luta que recém iniciara. Mas a segunda e tão logo a terceira colheradas foram avassaladoras e fulminantes, como dois diretos no queixo. Tomado de fraqueza e envergonhado pelo fracasso, afastei o prato da minha frente sob o olhar de reprovação da minha esposa, não pela derrota mas sim por ter insistido no desafio. 

Perdi, mas perdi lutando, de cabeça erguida.  Não me achiquei, fui derrotado mas por um adversário mais forte do que eu. Mas mesmo assim foi uma derrota. Hoje eu penso que havia algo de errado naquele sarapatel, talvez ingredientes mal selecionados, ou quem sabe fosse o que sobrara da noite anterior, esperando por algum turista desavisado e corajoso. E quem sabe, se o aspecto for um pouco melhor, eu até encare novamente o desafio. Não está descartada a hipótese de uma revanche.



sexta-feira, 14 de junho de 2013

Breves reflexões pós-férias. Ou: conselhos que eu gostaria de ter recebido antes.

- Viaje com malas grandes: se você ficou feliz por ter conseguido colocar tudo o que vai precisar enquanto estiver fora em uma mala pequena, saiba que terá dificuldades para fechá-la na volta. Além de fotos e boas lembranças, é normal trazermos para casa algo que vamos comprando pelo caminho: algum(s) vinho(s) da região, uma comida diferente que encontramos no supermercado, um objeto de decoração, uma lembrança, ou mesmo alguma roupa, isso sem falar que as que levamos de casa inexplicavelmente costumam ocupar mais espaço na volta do que ida. Não precisa ser uma mala gigante, mas que tenha algum espaço sobrando já na ida. Malas maiores são piores para serem carregadas, mas isso acontecerá apenas em alguns momentos, normalmente do aeroporto/estação para o hotel. A maior parte do tempo elas ficam paradinhas no quarto.

- Tenha sempre uma quantidade razoável de dinheiro na carteira: claro que a imensa maioria dos lugares aceita cartões, mas o bom e velho papel moeda pode quebrar grandes galhos. De que adianta ter um passe com o qual você pode ir até o aeroporto se os metroviários resolverem entrar em greve? Sair por aí procurando um caixa eletrônica para sacar uma grana não é nada divertido.

- Alugar um carro é uma opção logística e não de economia: vale a pena se vocês inventar um roteiro mirabolante, inexequível de outra maneira. Não esqueça que além de combustível, pedágios e do próprio aluguel, haverá outras despesas como o estacionamento e, muito provavelmente, alguma multa. Além do quê, dirigir 300, 500 ou 700 Km durante um dia é cansativo pra caramba.

- Se alugou um carro, não exagere: não programe longas viagens e nem queira conhecer muitos lugares em um único dia. É difícil estabelecer uma regra, mas acho que 400 Km, visitando dois lugares diferentes nesse trajeto é o limite tolerável.

- As distâncias entre cidades aferidas por mapas ou pelo Google Maps são apenas uma referência: lembre-se de que estará dirigindo numa cidade que provavelmente não conhece, que talvez enfrente um trânsito mais pesado até chegar à rodovia, que nos trechos urbanos que irá percorrer sua média despencará e que ao final você ainda precisará abastecer o carro e ir até a locadora (caso vá entregar o carro) ou hotel. Se o seu destino fica a 300 Km do seu ponto de partida, em hipótese alguma você chegará lá em apenas 3 horas e pouquinho.

- Uma paradinha sempre vai roubar tempo: você vai ter que chegar ao local, procurar um estacionamento, estacionar, encontrar aquilo que procurava, olhar, tirar umas fotos, talvez comer algo, voltar para o estacionamento, pagar e daí retornar à estrada. Nesses momentos o relógio passa muito mais rápido do que gostaríamos, esqueça aquela história de "vai me tomar apenas meia horinha".

- Não engorde seu roteiro: você já terá pouco tempo para ver o que tinha programado, ter que dividir seu curto tempo disponível com mais uma parada deve ser muito bem avaliado e apenas feito se for algo realmente imperdível.

- Nunca cronometre seu passeio: como já disse o Ricardo Freire, do Viaje na Viagem, o melhor das férias são as surpresas (ou algo nesse sentido). E também porque não vai dar certo mesmo, o local onde você imaginou que almoçaria provavelmente estará a mais de 100 Km de distância quando a fome apertar.

- Fique atento aos horários das atrações: talvez você não possa conhecer uma igreja por chegar justamente durante a missa, ou um museu que está fechado justamente naquele dia da semana. E em uma viagem dificilmente é possível "voltar amanhã".

- O GPS é uma das melhores invenções do mundo, mas nunca dispense um mapa do percurso, para saber quais rodovias deverá percorrer ou por quais cidades irá passar até chegar ao destino.

- Informe-se a respeito de outros lugares para se entregar o carro ao final da locação: pergunte se é possível deixá-lo no aeroporto ou em outro lugar onde o escritório permanece aberto por mais tempo, ou se há algum lugar para deixar apenas a chave depois do escritório estar fechado. Se o local onde você ficou de deixar o carro fecha às 19:00 e se seu aluguel vence apenas na manhã seguinte, não estrague seu passeio correndo feito um louco para chegar a tempo. Normalmente é possível entregar o carro em outro local, como nos aeroportos, onde os horários das locadoras são mais flexíveis.

- Ao final de uma viagem com o carro alugado, procure abastecer ao chegar na cidade. Se o local combinado para a entrega do veículo fica no centro de uma grande cidade, as vezes é mais difícil de se encontrar um posto de combustível por lá, o que irá obrigá-lo a perder um bom tempo procurando por um.

- A partir do terceiro, todo castelo, catedral gótica, cidade murada ou vila medieval são todos iguais. Ao menos que vocês seja um especialista ou fanático pelo assunto, atrações semelhantes começam a saturar e a sensação de déjà vu passa a ser inevitável. Não visite cidades com perfis parecidos em pequenos intervalos de tempo e não receie em eliminar algumas da lista. Seu passeio não será menos divertido se você deixar de conhecer a cidade com as muralhas mais bem preservadas ou não tiver a chance de procurar a escultura de uma rã na fachada de uma universidade. Evite a overdose, ela pode ser letal para suas férias.
- Tenha um cartão exclusivo para a função DÉBITO: é muito frustrante fazer compras no exterior escolhendo a função débito e ao chegar em casa descobrir em sua fatura que todas as transações foram feitas com se fossem no crédito, ou seja, com um pesado acréscimo de 6,38% de IOF.

- Alguns passes lhe dão o direito de ser preguiçoso: se você quer mesmo fazer render seu passe diário, evite caminhadas desnecessárias e use o transporte público até para pequenos trechos.

- Guarde sempre o recibo de suas compras: com ele você poderá provar que comprou mesmo o maldito ingresso que você perdeu;
- Sempre quis escrever um texto com OU no título: consegui.
- Classifico as férias em dois tipos: para se descansar e para conhecer algo. É normal que queiramos ver o máximo de atrações nas raras oportunidades que temos de visitar certos lugares. Mas calma, fazer uma correria somente para dizer que esteve em tal lugar pode não valer a pena. Aproveite seu período de folga, conheça lugares bacanas, mas sem sacrifícios. Caso contrário vai chegar em casa precisando de férias.

domingo, 12 de maio de 2013

Ei de ir: Caminho de Santiago

Pegue uma boa história e acrescente um grande desafio, uma pessoa testando seus limites, indo atrás de seu objetivo, superação, um pouco de misticismo e o triunfo após uma longa jornada. Temos elementos suficientes para um enredo de sucesso. Não é à toa que o Caminho de Santiago sempre rende histórias interessantes.

 


Numa época em que peregrinar a algum lugar sagrado era uma forma muito importante de se viver a religiosidade (algo difícil de se entender no mundo contemporâneo, tão avesso a manifestações de fé), ir até o local onde teriam sido encontrados os restos mortais do apóstolo Tiago tornou-se a alternativa a quem dificilmente conseguiria chegar a Roma e muito menos à Terra Santa. Hoje o percurso perdeu um pouco de sua conotação religiosa e tornou-se uma espécie de jornada introspectiva, de auto-conhecimento, algo meio new age, essas bobagens muito em voga hoje em dia.

Os entendidos dizem que não existe um único caminho mas sim várias rotas. O que é bastante óbvio: por que um morador de Lisboa iria se deslocar até Saint Jean Pied-de-Port para somente dali finalmente iniciar sua peregrinação? Pessoas de diferentes localidades percorriam trajetos distintos por razões de logística e de praticidade. No final, o trecho conhecido como Caminho Francês acabou se tornando o mais famoso, muito provavelmente por ser utilizado por um número maior de peregrinos, já  que servia a uma área mais populosa.



Outro mito em relação ao Caminho é que dizem que a jornada só é válida quando feita a pé ou, para a alegria desse pessoal descolado, de bicicleta. Mas por que isso? Só porque no medievo os peregrinos iam até Santiago de Compostela caminhando? Será que ninguém se deu por conta que naquele período esse era praticamente o único meio com a qual as pessoas conseguiam se deslocar? Ou acham que todo o mundo tinha o seu cavalo? Ou que havia algum transporte público? E por que de bike pode mas de moto não? E de carro, qual é o problema? No dia que eu for fazer minha peregrinação, seguirei a sugestão do finado jornalista Flávio Alcaraz Gomes: vou de carro. Não posso me dar ao luxo de ficar um mês inteiro caminhado e não serão bolhas nos pés que irão iluminar minha existência. Declino de tudo isso, prefiro curtir a paisagem tranquilo, parando onde me parecer aprazível, tirar umas fotos, conhecer os povoados nas redondezas, entrar em imponentes igrejas ou mesmo em humildes templos que lá estão há muitos séculos, contemplando silenciosamente seu esplendor, fazer minhas orações, comer algo típico da região, dormir em uma boa cama... Fazer tudo com calma e um certo conforto, coisa de dois ou três dias.


Pela praticidade, a agilidade que se tem para percorrer os trajetos mais monótonos com mais rapidez, a liberdade para parar onde e quando quiser, dedicando o tempo que achar necessário àquilo que for de interesse e também pelo conforto, o automóvel é a melhor opção para o peregrino contemporâneo. Eu entendo que nesse caso a expressão Caminho designa um trajeto, um percurso com destino definido, e não uma caminhada.

Além disso, é provável que eu percorra apenas parte do percurso, de acordo com as circunstâncias do momento. Eu nunca iria para a Europa exclusivamente por causa do Caminho de Santiago, mas tentaria conciliar com uma visita à Península Ibérica, em meio a outros passeios, aproveitando para conhecer outras cidades e fazer outros "caminhos". Como meus interesses são mais histórico-culturais e espirituais, escolherei a rota que melhor se adequar às circunstâncias do meus passeio. Se existe o Caminho Francês, o Português, o Aragonês, o do Norte e até o Inglês, por que não pode existir o Caminho do Germano? 

O importante é que ao seu final eu chegue a Santiago.


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As imagens são da Wikipédia.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

O endereço do Papa

Dizem que o tempo nos deixa mais sábios. Talvez haja um pouco de exagero nesse pensamento, mas se o passar dos anos não foi tão generoso comigo, ao menos fez-me perceber que eu não era tão inteligente quanto imaginava ser.
 
Quando na época do conclave que escolheria o sucessor de João Paulo II, recordo-me que fui um dos que também pensava que chegara a hora de termos um papa não-europeu e mais voltados às questões sociais, alguém que conhecesse melhor a realidade do terceiro mundo.

Que ignorância a minha... o tempo pacientemente me ensinou que um dos maiores erros da história recente da Igreja foi dar mais importância a questões sociais e políticas em detrimentos às questões espirituais. Uma interpretação equivocada do Concílio Vaticano II, e que prosperou especialmente na América Latina, passou a ver Jesus como uma espécie de Che Guevara nazareno, um revolucionário em busca de justiça social.  O sagrado foi sendo deixado de lado e a Igreja passou a ser vista por muitos, inclusive por pessoas dentro dela mesma, como uma espécie de Ong voltada à caridade.

Mas apesar de administrar milhares de hospitais, escolas, creches, orfanatos, asilos, a função primordial da Igreja nunca foi fazer caridade, esta é apenas uma consequência da aplicação dos ensinamentos cristãos, uns dos bons frutos doutrinários, mas não o único.

Eu já pensei que soubesse a resposta, mas hoje não consigo encontar validade nos argumentos que usava para defender que um papa devesse ter nascido em algum lugar específico, seja em Roma, em Las Vegas, em Vladivostok ou aqui na Linha São Francisco (antigamente conhecida como Fumecke), ou que devesse ser branco, preto ou amarelo. E acho incrível como há tanta gente que parece ter todas essas e muitas outras respostas.

Talvez nem todos sejam bons alunos do tempo.


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