segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O Pior dos Rebaixamentos

O dia e o mês eu não descobri. Naquela época, não se faziam grandes eventos com mídia, canapés e atrizes globais. Mas o ano foi 2002. Isso eu lembro (obrigado Google). Naquele fatídico ano o Sport Club Internacional, nesta que talvez tenha sido a maior auto-humilhação de um clube de futebol, lançou uma camiseta escandalosamente inspirada no uniforme do Ajax, algoz do rival Grêmio no Mundial Interclubes de 1995.

Aquilo que extra-oficialmente fora rotina para os torcedores colorados nas últimas décadas acabara de ser institucionalizado: para ser feliz, somente vestindo a camiseta de um time que pudesse fazer frente às incursões globais do rival tricolor.

E foram muitos: Pañarol, Estudiantes, Flamengo, Independiente, Hamburgo, Nacional (seja o uruguaio, seja o colombiano), River Plate, Palmeiras, Cruzeiro, Vasco, Ajax, Olímpia, Corinthians, e paro por aqui apenas com alguns do mais relevantes para não tornar o texto muito longo… inúmeras camisas passaram a rechear o guarda-roupa dos colorados, sempre na esperança da alegria alheia, pois se esperassem pela felicidade que o próprio time poderia lhes proporcionar, deveriam se contentar com modestos campeonatos regionais. Tanto que passaram a ser conhecidos de modo pejorativo como “colecionadores de camisas”.

A alegria colorada era ver o Grêmio perder. O ato de torcer resumia-se a secar. Muitos não concordam, mas esta era definitivamente a sua realidade. E aquela camisa, ao mesmo tempo em que “atendia” os anseios da torcida, que finalmente poderia ter a até então inalcançável alegria de se sentir Campeão Mundial, ainda mais diante do eterno rival, atestava de maneira definitiva a diminuição do inter perante o Grêmio e confirmava de modo oficial sua condição de secador.

Muito estranho isso, mas de certa maneira este maldito uniforme tornou-se um divisor de águas. Eu, fervoroso devoto de Nossa Senhora de Guadalupe, a padroeira das Américas, não acredito em mandinga, encosto, destino, Chico Xavier, Gasparzinho... Mas, coisa estranha, depois que o colorado lançou a tal camisa à holandesa, as coisas começaram a degringolar pros lados da Azenha. Em 2003, ano em que o tricolor comemorou seu centenário, o time lutou o Brasileirão inteiro contra o rebaixamento. No ano seguinte a história se repetiu, mas desta vez com final infeliz. Enquanto que o time chafurdava na lama da vergonha, o rival iniciou uma bem sucedida jornada rumo ao topo: depois daquela história mal contada no Pará, o time beliscou uma Sulamericana aqui, outra ali, vai uma ajudinha do juiz, uma entregada do goleiro adversário, uma desmotivada equipe de reservas da Catalunha e pronto: o Internacional alcançou o cume da glória. De agora em diante o colorado não precisaria mais se travestir de outra torcida para se sentir vitorioso, pois a própria camisa vermelha do time do coração já lhes dava este direito. Não havia mais necessidade de secar.

E o Grêmio até hoje não conseguiu se reerguer plenamente. Apesar de apresentar resultados expressivos, de taça que é bom ainda não veio nada. A rotina Gremista tem se dividido entre torcer pelo tricolor e – tristeza - pelos incompetentes adversários do rival. Agora são os tricolores que se desesperam com as malfadadas tentativas de Banfield, Pachuca, Deportivo Quito, Chivas e outros de conter o ímpeto colorado. É o que nos resta. Se dermos sorte talvez possamos desfilar pelas ruas no ano que vem com uma camisa Gremista com listras verticais azul escura e preta, tal qual a da Internazionale de Milão. Tenho certeza que seria um sucesso de vendas e um consolo para uma torcida carente de alegrias. Isso, é claro, desde que… bem, vocês sabem qual é o meu grande temor.

O Grêmio de tantas glórias já foi rebaixado duas vezes. Nenhuma delas foi tão vergonhosa como esta terceira.

O Grêmio se rebaixou a secador.

O Grêmio se rebaixou a inter.



- Germano Jaeschke Schneider

Esta é a minha última participação no FutebolForça.com, blog que ajudei a construir e cuja participação trouxe-me muitas alegrias. A partir de agora, dedico-me exclusivamente ao ADHD.

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