terça-feira, 8 de setembro de 2009

Margens plácidas

Valendo uma das tantas garrafas de Heineken que sobraram da festa do meu casamento: que local é mostrado na foto abaixo mostra?


Difícil?

Facilito então: fica alguns metros abaixo do monumento da seguinte foto. A segunda garrafa de cerveja vai para quem identificá-lo:



Caso você ainda não tenha passado o cursor do mouse sobre as imagens, lendo as legendas, digo que a primeira mostra as margens plácidas do riacho Ipiranga, na cidade de São Paulo, de onde foi ouvido o brado retumbante de um povo heróico, de acordo com as belas e empoladas palavras de nosso parnasiano hino. O monumento foi construído no local onde, supõem-se, nossso primeiro imperador ergueu sua espada e proclamou a independência do Brasil, fato que completou 187 anos ontem.

Monumentos desta grandeza não são muito comuns em nossa pátria verde-amarela, famosa por negligenciar ou até menosprezar os fatos e figuras de seu passado. De acordo com as imagens difundidas, o príncipe D. João era um gordo estúpido e comilão, D. Pedro I um tarado, D. Pedro II um velho dorminhoco, e assim vai. Não que estas pessoas não tivessem seus defeitos, assim como todos temos, mas é inegável que a contribuição deles para o Brasil suplanta em muito seus defeitos, por assim dizer.

Essa visão debochada, apesar de já existir ainda no período monárquico, deve ter-se intensificado na segunda metade do século passado, quando o pensamento de esquerda tornou-se verdade absoluta nos meios acadêmicos e formadores de opinião. Afinal, tais figuras representavam a classe dominante e opressora do povo, então fazia-se necessário denegrir suas imagens.

Do outro lado da fronteira, é difícil encontrar uma cidade argentina ou uruguaia onde os generais San Martín e Artigas, líderes da indepedência dos respectivos vizinhos, não recebam algum tipo de homenagem, seja uma singela placa ou um majestoso monumento equestre, sem falar nas cidades, praças, ruas, parque e até times de futebol cujos nomes lembram os líderes e seus companheiros.

Agora, num exercício rápido de memória, não consigo me lembrar de algum monumento em memória a D. Pedro I no meu Rio Grande do Sul. Há ruas, praças, é verdade, eu inclusive morei muitos anos numa Rua Sete de Setembro, nome onipresente em praticamente todas as cidades do país, mas é algo que passa quase despercebido em nosso cotidiano. Durante o feriado “comemorado” ontem, muitas pessoas que eu indaguei não souberam dizer o porquê de não precisarem ir ao trabalho/escola. Assim como a maioria das pessoas deve desconhecer a existência de um belíssimo monumento em mármore e bronze no local onde nossa indepedência foi proclamada, sobre o qual descansam os restos mortais de D. Pedro I.

É triste um povo que ignora e desreipeita seu passado. Mas em se tratando de um povo que ignora seu próprio presente, até que é algo compreensível.

Em tempo: como nada está tão ruim que não possa ser piorado, a espada que D. Pedro ergue no belo alto-relevo em bronze no Monumento à Independência, estava quebrada, como todas as demais da obra.



Um comentário:

  1. A propaganda de descrédito à família real começou com a Repúplica, e ainda hoje as pessoas têm uma noção distorcida da política no tempo da monarquia.

    Acho natural não haver estátuas de D. Pedro I a torto e a direito, próprio de um país multifacetado com diferentes identidades. Muito mais natural vermos estátuas de Bento Gonçalves por aqui no RS, nosso "Artigas".

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