sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Cruce de Ferrocarril

Percorrendo as estradas argentinas é bastante comum topar com placas com a frase acima. Só que ao invés de se deparar com um cruzamento de estrada de ferro, o que se vê na grande maioria dos casos são pequenas saliências no asfalto e restos de trilhos cobertos pela vegetação em ambos os lados.

A cena é freqüen... epa, frequente e corriqueira, pois tal qual ocorreu no Brasil, a Argentina deixou milhares de quilômetros de trilhos no completo abandono. Acontece que do outro lado da fronteira este abandono é muito mais evidente por uma simples razão: a malha ferroviária argentina era muito maior do que a nossa, chegando a ser uma das maiores do mundo com seus 47.000 Km, enquanto que no Brasil o total chegava a 30.000 Km numa área territorial muito maior. Somente a título de curiosidade, as duas malhas podem ser vistas nos mapas abaixo, retirados da sempre consultada Wikipédia.

Mas este não é mais um daqueles manifestos anti-patrióticos (ainda não aprendi como usar o hífen após o Reformão 2009), apenas uma constatação do descaso com o transporte ferroviário, descaso este que se torna muito mais evidente do outro lado do rio Uruguai por diversos motivos:

- Uma rede ferroviária mais extensa e mais densa (mais trilhos em menor área);
- As rodovias acompanham o traçado das ferrovias, sendo possível acompanhar por longos percursos as linhas e seu abandono;
- Significativo número de estações de trem abandonadas, principalmente junto às rodovias;

Aliás, este é outro ítem que chama a atenção: não vi cidade de porte médio para cima que não apresentasse uma estação ferroviária ou abandonada ou utilizada para outro fim, num cenário bastante triste para aqueles que (estranhamente) são atraídos pelo transporte ferroviário. E a imagem também é constante em pequenas cidades que visivelmente cresceram às margens dos trilhos.

Mas quais os motivos que levaram a este esfacelamento do transporte férreo, tanto lá quanto cá?
Bem, o principal motivo alegado é a inviabilidade econômica, o que é não apenas um bom motivo mas quase que um motivo suficiente por si só. Afinal, por que insistir em algo que não compensa financeiramente? É comprovado que o transporte de passageiros por trens só é viável em curtas distâncias como nos grandes centros metropolitanos, e até aí tudo bem, mas e o transporte de cargas?

Quantas carretas são necessárias para carregar a carga que apenas uma composição consegue transportar? Não há como comparar a economia de petróleo, pneus, asfalto, monóxido e dióxido de carbono que teríamos se muito do que hoje é transportado por caminhões fosse levado pelos trilhos. É bem verdade que existe um custo social nisso, milhares de famílias vivem em função dos caminhões, e sei que muitos podem vir até aqui bradando chaves de roda em minha direção por supostamente ameaçar seus empregos (como se eu tivesse força e poder para tanto), mas penso que outros fatores também devem ser considerados e avaliados, não só do ponto de vista laboral.

Bem, o abandono das estradas de ferro (nos dois países em questão) deu-se com mais evidência a partir dos anos oitenta (mesmo que o processo já viesse em andamento), culminando com os desmantelamento nos governos Menen-Collor (ô duplinha...), sempre sob a alegação da inviabilidade econômica. É provável que houvesse muitos outros interesses em jogo, tanto que muitos ramais vêm sendo reativados nos últimos anos.

Mas é certo que o transporte ferroviário não morrerá, pois ainda não há nada melhor para o transporte de grandes quantidades de cargas. E como toda atividade ele passa por diversos momentos e fases, mas sempre terá a sua valia. É bem provável que aquelas pequenas estações de trem pelas quais passei em minhas férias realmente não tenham mais razão de existir, e que por seus trilhos não haveria muito o que transportar. Tiveram sua época, sua importância, e deixaram seu legado (um dia quero escrever sobre os times de futebol criados por ferroviários, mas isso já é outra história para um outro blog), Mas é inegável que nostálgicos se emocionam com estes momumentos de um passado glorioso e difícil de se olvidar, e que mesmo erroneamente se percam em devaneios como o de que não há mais lugar para os trilhos nos dias de hoje.


Foto: arquivo pessoal.

Um comentário:

  1. Epa. Pelo jeito parece muito com a Ilha do Cardoso em Cananéia - SP. Gerador de energia elétrica, vila de pescadores e ninguém para encher o saco com tonterias de todo tipo. Vou passar pela sua indicação na próxima viagem ao sul de nosso querido continente.

    Ismael - S. Paulo - SP

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